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O Papa Francisco pediu neste domingo uma solução para a "grave crise na Venezuela" e o fim da "cultura da morte" entre os colombianos, ao visitar o porto de Cartagena, no último dia de sua viagem à Colômbia.
"É preciso gerar de baixo uma mudança cultural: responder à cultura da morte, da violência, com a cultura da vida, do encontro", disse o papa no porto de Cartagena, durante a última das quatro missas que celebrou nesta viagem à Colômbia.
Francisco, que em sua visita defendeu a reconciliação em um país que busca acabar com o último conflito armado das Américas, exortou os colombianos a construir a paz "não com a língua, mas sim com as mãos e as obras".
"Se a Colômbia quer uma paz estável e duradoura, tem que dar um passo urgente" na direção "do bem comum, da equidade, da justiça, do respeito à natureza humana e a suas exigências".
Francisco, que apoiou com firmeza o acordo de paz firmado entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), acrescentou em Cartagena que "trata-se de um acordo de convivência, de um pacto social e cultural", recordando que durante esta viagem escutou diversos testemunhos de vítimas com "ferimentos terríveis que pode contemplar em seus próprios corpos" e que, apesar disto, "foram ao encontro das pessoas que os feriram".
O papa rezou neste domingo o tradicional Angelus na Igreja de São Pedro Claver, jesuíta defensor dos escravos no século XVII, e, depois, dirigiu uma "mensagem especial à vizinha e amada Venezuela".
Ele pediu que se rejeite "todo tipo de violência na vida política e se encontre uma solução para a grave crise que se está vivendo e afeta todos, principalmente os mais pobres e menos favorecidos".
O Vaticano apoiou as tentativas de diálogo entre Maduro e seus adversários políticos, paralisadas desde antes de o presidente venezuelano apoiar a instalação da Assembleia Constituinte, que rege com plenos poderes desde 4 de agosto.
Esta foi a segunda vez em cinco dias que Francisco defendeu uma solução pacífica para a Venezuela.
O pontífice argentino também dedicou seu último dia na Colômbia a entrar em contato com os negros e pobres de Cartagena, joia turística e uma das cidades que registram a maior desigualdade social no país, que está entre os mais afetados por este fenômeno na América Latina, depois de Honduras.
Francisco fez uma visita rápida a San Francisco, subúrbio colado à pista do aeroporto internacional, com ruas desordenadas e casas precárias, e abençoou a pedra fundamental de um abrigo.
"Este é um bairro de esquecidos. Aqui há muita gente que faz apenas uma refeição por dia", disse à AFP o pedreiro Willy Martínez, 43. "Mas o mais grave aqui é a corrupção, é pior do que os tiros da guerrilha e os paramilitares".
"A visita do Papa foi o reconhecimento desta parte tão vulnerável da cidade, um aviso aos políticos, para lhes dizer que esta desigualdade tão grande não é boa para ninguém", comentou o estudante de informática Carlos Acevedo, 23, enquanto secava as lágrimas.
Acidente com papamóvel
Antes de deixar o bairro, Francisco sofreu um leve acidente no papamóvel. Quando saudava a multidão que se aglomerava nas ruas, bateu com o rosto contra o vidro do carro durante uma freada, o que resultou em um corte no supercílio e um hematoma na face.
"Me deram um soco", brincou o papa sobre o acidente.
Um dos agentes de segurança limpou o ferimento e aplicou uma compressa de gelo no rosto do papa, que continuou o trajeto de 3,5 km até a praça central de San Francisco.
Durante os cinco dias de viagem pela Colômbia, quando visitou as cidades de Bogotá, Villavicencio, Medellín e Cartagena, Francisco insistiu em sua mensagem de paz e reconciliação no momento em que o país está a ponto de encerrar o último conflito armado das Américas, que deixou mais de 7 milhões de vítimas, entre mortos, desaparecidos e deslocados, em mais de meio século.