Delegados do governo e da oposição da Venezuela se encontravam nesta quarta-feira (13) na República Dominicana em contatos exploratórios para um diálogo que ajude a resolver a grave crise política.
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Convidados pelo presidente dominicano, Danilo Medina, e pelo ex-chefe do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero os representantes do governo chegaram a um hotel luxuoso de Santo Domingo e asseguraram que as partes estão perto de chegar a um acordo para iniciar conversas.
"Posso dizer que muitos dos pontos que estão na agenda (...), e que com certeza serão colocados na mesa hoje, estão perto de ser alcançados", disse a jornalistas Jorge Rodríguez.
O dirigente estava acompanhado de sua irmã, Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia Constituinte que rege na Venezuela com poderes absolutos, e o experiente diplomata Roy Chaderton.
No mesmo local estavam Rodríguez Zapatero e o chanceler dominicano, Miguel Vargas.
O enviado do presidente Nicolás Maduro não detalhou se haverá um encontro pessoal com os delegados da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Entre eles destacam-se Julio Borges - presidente do Parlamento, de maioria opositora -, os deputados Eudoro González e Luis Florido, o dirigente Timoteo Zambrano e o especialista em resolução de conflitos Gustavo Velásquez, disse à AFP uma fonte da MUD.
A aliança opositora anunciou nesta terça-feira que seus representantes se reunirão com Medina.
Diálogo com condições
Após protestos contra o presidente Maduro, que deixaram 125 mortos entre abril e julho, as partes aceitaram o convite de Medina e Rodríguez Zapatero a explorar um diálogo.
Mas Borges advertiu nesta quarta que um diálogo formal apenas será possível se Maduro cumprir as exigências apresentadas pelas MUD e se houver acompanhamento internacional.
"Reitero à Venezuela e ao mundo que hoje não há diálogo e não haverá até que sejam cumpridas as condições expressas em comunicado" da MUD, tuitou o deputado.
Entre essas solicitações enumerou um "cronograma eleitoral" que inclua as presidenciais no final de 2018, a libertação de 590 "presos políticos", o "respeito" ao Legislativo e a retirada de sanções que impedem opositores de se candidatar a cargos de escolha popular.
Maduro disse esperar que a MUD "cumpra com a sua palavra ante a comunidade internacional de avançar na busca de soluções pacíficas".
O presidente enfrenta uma forte pressão internacional por denúncias de violações dos direitos humanos na contenção das manifestações, e por conta da Constituinte chavista que assumiu as funções do Legislativo.
As partes manejaram com discrição os detalhes de sua participação nas conversas.
"O Vaticano deve estar"
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou na terça-feira o seu "pleno apoio" à iniciativa, destacando que a Venezuela requer uma "solução política baseada no diálogo".
O papa Francisco disse na segunda-feira que a ONU devia "se fazer ser ouvida para ajudar" a resolver a crise venezuelana, destacando a sua preocupação pelo "problema humanitário" derivado da escassez de alimentos e remédios.
"Falei com pessoas, também de forma privada, e muitas vezes durante o Angelus (oração), buscando uma saída, oferecendo ajuda para sair. Parece que a questão é muito difícil", afirmou o papa depois de sua visita à Colômbia.
O Vaticano impulsionou um diálogo no final de 2016, que fracassou em meio a acusações mútuas de incumprimento dos acordos.
O líder opositor Henrique Capriles, que acusa Rodríguez Zapatero de ser parcial com o governo, afirmou na noite de terça-feira que para que exista diálogo a ONU e o Vaticano devem participar.
"Explorar condições"
A MUD enfatizou que a reunião com Medina será para "explorar" condições de negociação, e reiterou que isso passa por atender com urgência a crise socioeconômica, agravada por uma inflação que, segundo o FMI, superará os 720% este ano.
O convite de Medina e Rodríguez Zapatero a "transitar um processo de negociação e acordo político" foi saudado pelos governos de França e Espanha, críticos de Maduro.
Madri desconhece a Constituinte, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, chamou o seu contraparte venezuelano de "ditador", assim como os Estados Unidos, que impuseram sanções financeiras a Caracas.
"Não é suficiente que o governo venezuelano expresse o seu desejo de manter um diálogo com a oposição", afirmou o ministro espanhol das Relações Exteriores, Alfonso Dastis, após se reunir nesta quarta em Madri com seu homólogo venezuelano, Jorge Arreaza.