Duas semanas se passaram até que o vereador Carlos García recebesse atendimento médico após sofrer um AVC na prisão. Sua morte, precedida de uma desesperada busca por medicamentos, revela a grave situação de vários opositores presos.
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García, 44 anos, morreu no domingo em um hospital de San Cristóbal (oeste), para onde foi levado no dia 18 de agosto de uma prisão do serviço de inteligência (Sebin) em Guasdualito, onde era vereador.
"Meu irmão sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) no início de agosto e durante duas semanas não recebeu atendimento médico. Pensaram que estava fingindo. Quando foi levado ao hospital já estava em péssimas condições", disse à AFP Yhorlenys Aular.
A Direção de Direitos Humanos do Ministério Público abriu uma investigação sobre o caso, informou nesta segunda-feira à AFP o procurador-geral, Tarek William Saab.
Segundo Aular, o vereador também contraiu um infecção no cérebro e ficou por três dias sem a medicação adequada, assinalou a irmã.
A família recorreu à Internet para conseguir os antibióticos necessários, recurso cada vez mais comum na Venezuela diante da crise de abastecimento.
O vereador foi preso em 17 de dezembro de 2016, sob a acusação de permitir atos de violência durante protestos, por falta de verba.
As autoridades afirmaram que García estava com uma elevada soma em dinheiro, mas seus familiares e o partido Primeiro Justiça, no qual militou por 17 anos, garantem que o Sebin forjou as evidências.
O Tribunal Supremo de Justiça emitiu um comunicado declarando que García tinha toxoplasmose, o que pode ter se agravado por uma "enfermidade infecciosa imunodeficiente" da qual o político não tinha conhecimento.
Garcia, que segundo o Primeiro Justiça estava preso sem acusação formal, teria obtido progressão para prisão domiciliar na sexta-feira passada, quando já agonizava no hospital.
O vereador integrava o grupo de "presos políticos" formado por 566 pessoas, segundo a oposição, que inclui ainda o dirigente Leopoldo López e o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, ambos em prisão domiciliar.
"Em quase todos os casos a situação é lamentável porque são submetidos a condições desumanas e insalubres", assinalou à AFP Gonzalo Himiob, da ONG Foro Penal.
Nos últimos meses se multiplicaram as denúncias sobre a deterioração do estado de saúde de opositores presos; e também de torturas contra detidos durante as manifestações contra Maduro, que deixaram ao menos 125 mortos entre abril e julho passados.
Este é o caso do parlamentar Gilber Caro, capturado em 11 de janeiro passado sob a acusação de planejar ações terroristas e que nesta segunda-feira completou oito dias de greve de fome. Sua defesa afirma que sofre de vários problemas de saúde.
Um dos casos mais sensíveis é o do deputado regional Wilmer Azuaje, preso desde maio passado, apesar de sua libertação ter sido proferida pela justiça em julho.
"Wilmer vomita o que come devido à péssima qualidade da alimentação. O mesmo ocorre com Gilber Caro...", revelou um advogado ligado aos casos.
O governo, que nega a existência de presos políticos na Venezuela, evita responder às denúncias, mas certos funcionários negam que o tratamento desumano seja uma prática generalizada.
A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) exige a libertação dos "presos políticos" como condição para negociar com o governo um acordo que acabe com a grave crise - política e econômica - que sufoca o país.
As partes iniciaram na quarta-feira passada, na República Dominicana, contatos para estabelecer as bases de um possível diálogo.