Em Raqa, em meio às ruínas, um combatente antiextremista se dirige, com um alto-falante, aos moradores sitiados nos últimos redutos do grupo Estado Islâmico (EI), pedindo que vão para áreas seguras.
Quase quatro meses depois de entrar em Raqa, as Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de combatentes curdos e árabes apoiada por Washington, estão prestes a arrebatar do EI sua "capital" no norte da Síria.
Mesmo assim, os combates continuavam a causar estragos nos últimos redutos onde os extremistas islâmicos estão encurralados.
Para escapar dos bombardeios aéreos da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, os extremistas teriam se escondido nos abrigos subterrâneos dos edifícios governamentais, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
O avanço das forças árabes-curdas tem sido lento pela presença na cidade de cerca de 15 mil civis, de acordo com a ONU.
Antes de iniciar sua ofensiva perto dos silos de grãos no norte da cidade, os combatentes das FDS tentam evacuar os habitantes da área.
Para fugir, os civis têm que se esquivar dos atiradores do EI, mas também torcer para não pisar em nenhuma das minas terrestres deixadas pelos extremistas.
'Grave escassez'
"Nós viemos aqui porque há civis. Eles nos informaram que desejam partir", explica Ahmed Abu Sheik, com um rádio na mão e um lenço preto sobre a cabeça.
"Estamos a cerca de 70 metros de distância deles, vamos tirá-los das mãos" do EI, assegura o combatente das FDS, que dirige uma unidade responsável pela evacuação de civis.
Ao seu redor, a paisagem é de desolação. Em um painel, no meio das ruínas, a palavra "jihad" está escrita. Em todo lugar há montes altos de terra, levantados pelos jihadistas para frear o avanço das FDS.
"Alá é o maior", lia-se em letras garrafais nos muros de Raqa, cenário das piores atrocidades cometidas pelo grupo ultrarradical sunita desde a tomada da cidade, em 2014.
Dezenas de milhares de civis fugiram nos últimos meses, desde que as FDS lançaram sua ofensiva para reconquistar os territórios que fazem fronteira com a cidade.
Centenas morreram nos bombardeios da coalizão, de acordo com o OSDH. Aqueles que estão vivos, passam seus dias em "condições incrivelmente difíceis" e sofrem "uma grave escassez de comida, água e medicamentos", de acordo com o Escritório para Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
As FDS controlam a maior parte da cidade, e os últimos jihadistas "não podem mais lançar ataques ou usar carros-bomba", garantiu na quinta-feira Rodja Felat, um comandante das FDS.
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'Promessa'
Ao redor se ouvia o barulho dos atiradores e os disparos de morteiros, enquanto os bombardeios aéreos deixavam para trás colunas de fumaça.
Os combates prosseguem em um setor do centro da cidade, perto do principal hospital de Raqa e de um estádio de futebol onde os jihadistas se entrincheiraram.
No hospital, os combatentes extremistas "usam civis como escudos humanos", retardando o avanço das FDS e a conquista do prédio, de acordo com Jihan Sheij Ahmed, porta-voz das FDS.
"Controlamos 80% da Raqa. Os 20% restantes estão na linha de fogo de nossas forças", disse à AFP, observando que a vitória deverá ser anunciada "nas próximas semanas".
"Pela primeira vez, podemos cruzar da frente oeste até a frente leste, porque nossas forças controlam a maior parte da cidade", ressalta.
Logo ao lado, os combatentes das FDS dançam a dabka, uma dança tradicional do Oriente Médio, e tiram fotos para imortalizar o momento.
"Esta vitória é uma promessa que fizemos aos nossos amigos já mortos", destaca o jovem combatente Berkhdan, com a cabeça coberta com um tradicional lenço verde decorado com flores.
"Estamos vivendo momentos históricos. A libertação de Raqa será contada nos livros de história", acrescenta.