Os curdos do Iraque votavam nesta segunda-feira (25) em um referendo de independência histórico que poderia provocar uma escalada de violência, depois que o Parlamento iraquiano solicitou o envio de tropas para as áreas em disputa.
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A consulta, estimulada pelo presidente curdo Massud Barzani, acontece na região autônoma do Curdistão (norte do Iraque), que inclui as províncias de Erbil, Solimaina e Duhok, assim como nas zonas que os curdos disputam com o governo central iraquiano.
O resultado deve ser anunciado na terça-feira, 24 horas após o encerramento da votação.
Representa um desafio para o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, que prometeu adotar "as medidas necessárias" para preservar a unidade nacional.
Neste sentido, o Parlamento de Bagdá votou uma resolução "exigindo que o comandante em chefe do Exército (o primeiro-ministro) envie forças para todas as áreas" controladas pelos curdos após a invasão americana de 2003 e a queda do ditador Saddam Hussein.
Constitucionalmente, o Governo é obrigado a acatar esta decisão.
Ao cair da noite será decretado toque de recolher em alguns distritos de Kirkuk, segundo informou a polícia.
As áreas em disputa então localizadas fora da região autônoma do Curdistão: a rica província petrolífera de Kirkuk e setores de Nínive (norte), Dyala e Saladin (ao norte de Bagdá).
A maioria destas áreas foram conquistadas pelos combatentes curdos peshmergas em 2014, aproveitando-se do caos causado pela ofensiva do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no país.
Ao ser questionado pela AFP sobre o risco de confronto com as forças curdas, Saad al Adithi, porta-voz do gabinete do primeiro-ministro, respondeu que "há confrontos nessas zonas e a tarefa das forças federais será aplicar a lei e assegurar a estabilidade e a paz".
Pressões
Preocupados com a possibilidade de que suas minorias curdas tentem seguir o exemplo, países vizinhos como Turquia e Irã também ameaçaram adotar represálias.
A pedido do Iraque, o Irã proibiu os voos para o Curdistão iraquiano. O país também fechou as fronteiras com o Curdistão iraquiano.
Já o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o fechamento de sua fronteira com o norte do Iraque e ameaçou suspender as exportações curdas de petróleo através do território turco.
O governo iraquiano também pediu aos sócios que negociem apenas com Bagdá as questões relacionadas ao petróleo.
O Curdistão produz em média 600.000 barris por dia, e 550.000 são exportados através da Turquia.
Os locais de votação permanecerão abertos até 18h (12h de Brasília). Um total de 5.375.000 eleitores estão registrados.
Uma grande multidão votou logo após a abertura das zonas eleitorais nas duas maiores cidades da região, Erbil e Solimania.
De acordo com a agência curda Rudaw, o presidente Massud Barzani, sorridente e com uma vestimenta tradicional, votou cedo.
No total, 12.072 centros de votação foram estabelecidos na região autônoma do Curdistão e em outras áreas disputadas entre os curdos e o governo central iraquianos.
Os primeiros resultados serão anunciados 24 horas depois da votação, mas existem poucas dúvidas sobre a provável vitória do "Sim".
Divididos entre Iraque, Síria, Irã e Turquia, os curdos nunca aceitaram o tratado de Lausanne de 1923, o qual os deixou sem um Estado independente.
No domingo, o presidente curdo, Massud Barzani, garantiu que será inflexível.
"A associação com Bagdá fracassou e não vamos retomá-la. Chegamos à convicção de que a independência permitirá não repetir as tragédias do passado", disse.
Já o primeiro-ministro iraquiano rejeitou a separação em um discurso.
"Tomar uma decisão unilateral que afeta a unidade do Iraque e sua segurança, assim como a segurança da região, com um referendo de separação vai contra a Constituição e a paz civil", denunciou Haider al-Abadi.