Atualizada às 15h21
Os curdos iraquianos decidiram manter o referendo de independência de segunda-feira (25) "seja qual for o risco ou o preço", apesar das ameaças do primeiro-ministro iraquiano de tomar as medidas necessárias para preservar a unidade no país.
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"A parceria com Bagdá fracassou (...) Temos a convicção de que a independência permitirá que não se repitam tragédias do passado", disse em coletiva de imprensa em Erbil o presidente da região autônoma do Curdistão, Massud Barzani.
"Supomos que haverão reações, porém chegamos à convicção: seja qual for o risco ou o preço, é melhor que esperar um destino sombrio", insistiu. Complementou afirmando que a vitória do 'sim' seria apenas o começo de "um longo processo".
Em um discurso em Bagdá, ao mesmo tempo que a coletiva de imprensa de Barzani, o primeiro-ministro iraquiano, Hiader al-Abadi, reprovou a separação.
"Tomar uma decisão unilateral que afeta o Iraque, a sua segurança e a segurança da região, com um referendo de separação, é contrário à Constituição e a paz", disse.
Neste domingo, o Irã tomou a primeira medida de represália ao proibir até segunda ordem todos os voos que iriam até o Curdistão iraquiano, a pedido de Bagdá.
- 'Complôs' -
Os curdos são chamados a votar nas três regiões que formam desde 2003 a região autônoma do Curdistão, mas também nos territórios disputados pelos curdos e as autoridades de Bagdá, como a província petrolífera de Kirkuk.
"Somos todos a favor da independência, porque não vemos interesse em permanecer no Iraque, mas tememos os complôs orquestrados pelos países vizinhos", confirma Kamaran Mohammad, de 27 anos.
"Hoje, nós os vemos (...) colocando de lado suas diferenças para se aliar contra nós", afirma o vendedor de roupas, enquanto Turquia, Irã e Iraque pediram medidas de retaliação.
Aos olhos de Ancara, "o referendo de segunda-feira é ilegítimo, nulo e sem efeito", segundo afirmou neste domingo o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim.
A Turquia, preocupada com a ideia de que o referendo desperte os desejos separatistas de sua minoria curda, já alertou que sua resposta teria aspectos "de segurança" e "econômicos", enquanto o Exército turco intensificou suas manobras na fronteira.
Enquanto isso, Teerã deu um primeiro passo concreto ao interromper neste domingo "todos os voos iranianos para os aeroportos de Erbil e Suleymani e todos os voos que partem do Curdistão iraquiano passando pelo Irã", um anúncio feito pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional.
- 'Provocação' -
Neste contexto, o medo é palpável em Suleimaniyeh, a segunda cidade do Curdistão iraquiano, controlada pela União Patriótica do Curdistão (UPK), rival de Massud Barzani.
Hama Rachid Hassan, de 51 anos, foi a um centro de votação verificar se seu nome estava nas listas, porque "desde que era menino, sonha com o dia em que nossa bandeira aparecerá nas Nações Unidas".
Mas outros estão menos entusiasmados e temem as consequências. "Amanhã vou votar 'não' porque tenho medo de um embargo na região, de uma guerra civil com Hashd al-Chaabi (milícia paramilitar xiita) e acordar para ver soldados turcos patrulhando nossas ruas", explica Kamiran Anuar, uma professora de 30 anos.
As ameaças estão se tornando cada vez mais fortes no Iraque. O chefe das forças paramilitares Hashd al-Chaabi, Faleh al-Fayad, disse que a votação "custaria caro aos organizadores deste referendo".
"É uma ação de provocação que destruirá as relações entre árabes e curdos", afirmou.
Esta milícia foi criada em junho de 2014 para combater o grupo Estado Islâmico (EI).
Washington e muitos países ocidentais também pediriam o adiamento ou o cancelamento do referendo, dizendo que vai dificultar a luta contra o EI.