Forças turcas trocaram disparos neste domingo (8) com jihadistas na Síria, na província de Idlib, um dia depois do anúncio feito por Ancara da preparação de uma operação naquela região, indicaram uma ONG e testemunhas.
A província é a única do noroeste da Síria que não está nas mãos do regime de Bashar al-Assad, e é controlada, em sua maioria, pelo grupo Fateh al-Sham, conhecido anteriormente como Frente al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda.
Esta organização predomina na coalizão jihadista Tahrir al-Sham, que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, quer erradicar da província com a ajuda dos rebeldes sírios.
Na manhã deste domingo (8), combatentes da Tahrir al-Sham dispararam contra tropas turcas que demoliam parte do muro que separa a Turquia da província síria de Idlib, assinalaram testemunhas e o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
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Ancara mobilizou forças especiais e equipamento militar, incluindo tanques, no setor fronteiriço, mas a operação anunciada por Erdogan não começou, segundo fontes no local.
"Um grupo da Tahrir al-Sham atirou contra o veículo que demolia parte do muro, e os turcos responderam bombardeando a zona", afirmou uma testemunha na fronteira, ouvida pela AFP.
O OSDH deu conta de "trocas de disparos violentas", indicando que obuses turcos atingiram os arredores de um acampamento de refugiados, o que obrigou civis a fugirem da região.
A ONG também indicou que os jihadistas bombardearam uma posição turca perto do posto de Bab al-Hawa.
O canal turco NTV também noticiou os disparos na fronteira, citando "fontes militares". Em seu site, afirmou que o Exército turco usou a artilharia em apoio aos rebeldes sírios aliados.
A província de Idlib é uma das quatro zonas de distensão sírias anunciadas em maio pelos aliados internacionais do regime e dos rebeldes com o objetivo de decretar trégua em várias zonas da Síria.
Em 15 de setembro, Rússia e Irã, aliados do governo de Bashar al-Asad, e a Turquia, que apoia os rebeldes, anunciaram que mobilizariam forças de segurança em Idlib, sem informar quando.
A ofensiva turca acontece quando a Tahrir al-Sham, que reúne cerca de 10 mil combatentes, segundo o OSDH, encontra-se em posição delicada, com deserções em suas fileiras e divisões internas. Algumas facções desta coalizão jihadista querem dialogar com a Turquia e outros países, para não serem mais classificadas como organização terrorista.
A Turquia já realizou, entre agosto de 2016 e março de 2017, uma operação militar no norte da Síria, batizada de Escudo do Eufrates, para repelir o grupo Estado Islâmico e as milícias curdas, que Ancara considera terroristas.
Segundo o periódico "Hürriyet", as forças rebeldes envolvidas na nova operação serão as mesmas que participaram da operação Escudo do Eufrates.
Desde que esta última operação foi concluída, a Turquia afirmou, em várias ocasiões, estar pronta para lançar uma nova operação militar na Síria, repetindo que não irá autorizar a criação de "um corredor terrorista" em sua fronteira.
A guerra na Síria, que teve início após a repressão a manifestações pacíficas em 2011, tornou-se um conflito complexo, com múltiplos protagonistas, de países estrangeiros a grupos jihadistas.
A guerra já deixou mais de 330 mil mortos, e milhões de pessoas tiveram que abandonar suas casas.