O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, que tem dado o que falar por sua vontade de reformas e pelo expurgo lançado contra personalidades políticas e empresários de seu país, se somou nesta terça-feira (7) à troca de acusações com o Irã, a quem culpou de "agressão direta" no âmbito do conflito no Iêmen.
"O envolvimento do Irã na entrega de mísseis aos (rebeldes iemenitas) huthis é uma agressão militar direta do regime iraniano e poderia ser considerado como um ato de guerra contra o reino", declarou Mohammed bin Salman, segundo a agência oficial saudita SPA.
O Irã reagiu rapidamente por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Mohammed Javad Zarif, que qualificou as afirmações do príncipe Mohammed bin Salman de "contrárias à realidade".
No dia anterior, a Arábia Saudita sunita e o Irã xiita - dois grandes rivais no Oriente Médio - já haviam trocado duras acusações em relação ao Iêmen, um país em guerra no qual apoiam grupos opostos.
A tensão voltou a aumentar depois que os sauditas interceptaram no sábado à noite um míssil balístico lançado na direção do aeroporto de Riad pelos rebeldes xiitas huthis, apoiados pelo Irã.
Riad acusou o Irã de ter fornecido esse tipo de míssil aos rebeldes, declaração desmentida por Teerã, que sempre negou ajudar os huthis e denunciou os "crimes de guerra" cometidos pelos sauditas no Iêmen.
"O regime iraniano confirma mais uma vez o seu completo menosprezo com suas obrigações internacionais", denunciou a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, em comunicado.
Desde março de 2015, a Arábia Saudita lidera uma coalizão de países árabes sunitas que apoia as forças governamentais iemenitas em sua guerra contra os huthis e seus aliados, que desde 2014 controlam amplas zonas do oeste e do norte do país, incluindo a capital, Sanaa.
O conflito já deixou mais de 8.650 mortos e cerca de 58.600 feridos, entre eles muitos civis, e provocou "a pior crise humanitária do mundo", segundo a ONU.
O príncipe Mohammed, que também é ministro da Defesa, se considera o artífice da intervenção saudita no Iêmen.
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Ameaça dos rebeldes
Em represália pelo míssil de sábado, a coalizão dirigida por Riad se reservou o direito de responder de "forma apropriada" e decidiu fechar "provisoriamente" todas as fronteiras aérea, marítima e terrestre do Iêmen para impedir possíveis entregas de armas aos rebeldes.
Essa aliança já impunha um embargo aéreo ao aeroporto de Sanaa e inspecionava os carregamentos que transitavam pelo porto de Hodeida (oeste), no Mar Vermelho.
Após o anúncio do bloqueio, os rebeldes huthis ameaçaram atacar portos, aeroportos, postos fronteiriços e instalações fundamentais da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.
A ONU criticou a ampliação do embargo e se preocupou com a impossibilidade de levar ajuda humanitária ao país em guerra.
"As operações humanitárias estão bloqueadas após o fechamento ordenado pela coalizão dirigida pela Arábia Saudita", lamentou o porta-voz do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU em Genebra, Jens Laerke.
Trump apoia o príncipe
A nova crise entre Riad e Teerã coincide com um expurgo sem precedentes realizado pela Arábia Saudita contra príncipes, ex-responsáveis e homens de negócios acusados de corrupção.
A operação foi lançada por iniciativa de uma comissão dirigida pelo príncipe Mohammed, de 32 anos.
O presidente americano, Donald Trump, ofereceu na segunda-feira o seu apoio às ações do rei Salman e de seu filho.
"Confio plenamente no rei Salman e no príncipe herdeiro da Arábia Saudita. Sabem exatamente o que estão fazendo", tuitou. "Algumas pessoas que são tratadas com dureza levam anos 'espremendo' o seu país", acrescentou.
O expurgo reflete uma mudança profunda na monarquia saudita ao romper com o habitual consenso no seio da família real para gerir os assuntos do país, e ao reforçar o poder do príncipe Mohammed que empreendeu um amplo programa de reformas econômicas e sociais.