A operação anticorrupção lançada pela Arábia Saudita na semana passada levou 201 pessoas à prisão e revelou uma fraude de até 100 bilhões de dólares ao longo de várias décadas, anunciaram as autoridades locais nesta quinta-feira (9).
Príncipes, ministros e um homem de negócios bilionário estão entre as personalidades detidas ou demitidas na semana passada, em uma ação decidida por uma comissão anticorrupção presidida pelo príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, de 32 anos.
Este expurgo ocorre em um tenso contexto regional, com Arábia Saudita e Irã enfrentados pela guerra no Iêmen e uma possível crise política no Líbano após a renúncia do primeiro-ministro Saad Hariri, anunciada em Riad.
"Um total de 208 pessoas foram interrogadas até agora. Desses indivíduos, sete foram liberados sem acusações", indicou o Ministério saudita da Informação em um comunicado.
As autoridades congelaram as contas bancárias dos acusados e anunciaram que qualquer atividade relacionada a temas de corrupção seria confiscada como propriedade do Estado.
"A possível magnitude das práticas de corrupção é muito grande", acrescentou o Ministério. "Segundo nossas investigações dos três últimos anos, calculamos que ao menos 100 bilhões de dólares foram desviados através de corrupção e malversação sistemáticas durante várias décadas".
Os detidos serão julgados em um tribunal, indicou o procurador-geral na segunda-feira (6).
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Motivos políticos?
"Apesar dos meios de comunicação sauditas apresentarem essas medidas como uma campanha contra a corrupção, as detenções em massa sugerem que se trata mais de uma luta pelo poder", disse na quarta-feira a ONG Human Rights Watch (HRW).
O príncipe Mohamed, filho do rei Salman, é considerado o líder de fato da monarquia governante. Controla as principais instâncias de poder, desde a defesa até a economia, e parece disposto a acabar com qualquer oposição interna antes que seu pai, de 81 anos, entregue a ele formalmente o poder.
Com este movimento, que alguns analistas descrevem como atrevido e arriscado, o herdeiro ganhou um poder sem precedentes na história recente do país.
A operação anticorrupção coincide com o lançamento de um amplo plano de reformas, o "Visão 2030", com o qual o príncipe Mohamed pretende modernizar o reino e diversificar sua economia, que depende em grande medida do petróleo, cujo preço despencou nos últimos tempos.
Tensão regional
Além desses movimentos internos, a monarquia sunita enfrenta um clima político e diplomático cada vez mais tenso no Oriente Médio, especialmente com o Irã xiita.
Após um ataque frustrado contra o aeroporto de Riad no sábado, reivindicado pelos rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, a Arábia Saudita acusou Teerã de uma "agressão direta".
O Irã rejeitou as acusações de que fornece mísseis aos rebeldes xiitas e advertiu a Arábia Saudita do "poder" iraniano.
A agitação regional se tornou explícita na semana passada quando o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, de visita a Riad, renunciou ao criticar o "controle" exercido pelo Irã em seu país, chegando a afirmar que temia por sua vida.
Diante da situação no Líbano, Riad pediu nesta quinta-feira a seus cidadãos que deixem o país "o quanto antes" e que não viajem ao Líbano, embora não tenha mencionado nenhuma ameaça específica.
O presidente libanês, Michel Aoun, reclamou o retorno de Hariri, que tem dupla nacionalidade libanesa e saudita.
A última disputa entre Riad e Teerã poderia complicar ainda mais a guerra travada por procuração no Iêmen e na Síria, onde apoiam lados opostos.