O novo presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, colocou um ponto final nesta sexta-feira aos 37 anos de governo autoritário de Robert Mugabe, ao prestar juramento diante de dezenas de milhares de compatriotas esperançosos.
Leia Também
"Eu, Emmerson Dambudzo Mnangagwa, juro que como presidente da República do Zimbábue serei leal ao Zimbábue e obedecerei, respaldarei e defenderei a Constituição e todas as outras leis do Zimbábue", prometeu em uma cerimônia solene na capital Harare.
Aos 75 anos, Mnangagwa assume o poder em um país arruinado, três dias depois da renúncia de Mugabe, de 93 anos, até então o chefe de Estado em exercício mais idoso do planeta, que foi obrigado a deixar o cargo por pressão do exército, das ruas e do próprio partido.
Durante o discurso após a posse, Mnangagwa prestou homenagem a Mugabe, a quem chamou de "pai da nação".
"Aceitamos e reconhecemos todos a sua imensa contribuição para a construção de nossa nação", declarou Mnangagwa.
O novo presidente também prometeu indenizar os fazendeiros brancos que foram violentamente expulsos de suas propriedades por Mugabe no início dos anos 2000.
"Meu governo está comprometido em compensar esses fazendeiros cujas propriedades foram confiscada", declarou em seu primeiro discurso como chefe de Estado.
Disse ainda que essas reformas são inevitáveis.
Mnangagwa prometeu que vai reduzir a pobreza e lutar contra a corrupção em seu novo governo.
"Vamos criar empregos para nossa juventude e reduzir a pobreza de nossa população", destacou Ngangagwa, acrescentando que os atos de corrupção vão acabar em seu governo.
Por fim, prometeu segurança aos estrangeiros que quiserem investir no Zimbábue.
Desde o amanhecer, os moradores da capital seguiram para o National Sports Stadium para aclamar o novo presidente.
"Obrigado aos nossos soldados" e "O povo falou" eram alguns dos cartazes exibidos no estádio.
Mugabe foi desbancado do poder após uma intervenção do exército, que assumiu o controle do país na noite de 14 de novembro, depois que Mugabe destituiu Mnangagwa do cargo de vice-presidente.
Mnangagwa, cacique do regime desde a independência do Zimbábue em 1980, conhecido como "crocodilo", havia sido destituído por ordem da primeira-dama Grace Mugabe, que disputava com o vice-presidente a sucessão de seu marido, que tem uma saúda cada vez mais frágil.
Pilar do aparelho de segurança do Zimbábue há quatro décadas, Mnangagwa, várias vezes ministro, era um fiel executor das tarefas sujas de Robert Mugabe.
A destituição provocou um golpe do exército, categoricamente contrário à chegada ao poder da incontrolável Grace Mugabe.
Depois de resistir por vários dias, Mugabe renunciou na terça-feira, quando estava sob ameaça de um processo de impeachment iniciado por seu próprio partido.
Segurança e bem-estar
Mnangagwa conversou na quinta-feira com Mugabe e prometeu a ele e a sua família "segurança máxima e bem-estar", informou o jornal estatal The Herald.
O Herald não revelou mais detalhes sobre o futuro de Mugabe.
"Nenhum zimbabuano deseja que Mugabe seja preso, enforcado ou linchado", disse à AFP um dos ministros, Supa Mandiwanzira.
"As pessoas querem virar a página".
De acordo com a ONG Anistia Internacional, "dezenas de milhares de pessoas foram torturadas, desapareceram ou morreram" durante a era Mugabe.
O porta-voz do ex-presidente, George Charamba, negou de forma categórica a concessão de imunidade, como indicaram alguns meios de comunicação.
Mugabe havia informado ao sucessor que não deveria comparecer à cerimônia de posse porque "precisava de tempo para descansar", segundo o Herald.
Ao retornar na quarta-feira de um breve exílio na África do Sul após sua destituição, Emmerson Mnangagwa prometeu que a recuperação econômica será sua prioridade absoluta.
"Queremos empregos", disse.
Com uma taxa de desemprego calculada em 90%, os zimbabuanos estão resignados com pequenos trabalhos na economia informal. Muitos deixaram o país, em sua maioria para a África do Sul.
De maneira mais amplia, Robert Mugabe deixa uma economia destruída por suas reformas devastadoras. A atividade é lenta, falta dinheiro e o fantasma da hiperinflação é uma ameaça.
O principal partido de oposição, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), deseja um governo de união nacional até as eleições presidenciais previstas para 2018.