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Trump mantém vínculo com seus negócios após um ano na Presidência

O hotel Trump International de Washington, por exemplo, fica próximo à Casa Branca

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Publicado em 17/01/2018 às 17:11
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O hotel Trump International de Washington, por exemplo, fica próximo à Casa Branca - FOTO: Foto: AFP
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Há um ano Donald Trump prometeu deixar de lado seu império imobiliário e passar as rédeas da Trump Organization para seus filhos, mas ainda se mantém como proprietário dos grupos, algo inédito para um presidente americano.

Hoje, seus clubes de golfe na Flórida ou Nova Jersey, onde passou mais de 80 dias em 2017, são parte integrante de seu exercício na Presidência. E seus adversários denunciam sem descanso, inclusive na Justiça, os laços obscuros entre a Casa Branca e a Trump Organization.

Para muitos, um dos exemplos flagrantes dessa perigosa mistura é o hotel Trump International de Washington, próximo à Casa Branca.

Antes da vitória da Trump, muitos duvidavam do êxito do antigo prédio dos correios transformado em hotel de luxo. Hoje, seus quartos, restaurantes e salas de conferências recebem diplomatas estrangeiros e lobistas.

"Virou um anexo da Casa Branca, onde se paga 27 dólares por uma margarita, pode-se falar com pessoas que verão o presidente no dia seguinte (...) Uma forma de se aproximar das autoridades do governo Trump", afirma Austin Evers, diretor da ONG "American Oversight", criada com fundos democratas para denunciar os problemas éticos da atual administração.

Evers cita as estadias das delegações saudita e malaia no hotel, ou um congresso de lobistas a favor do cigarro eletrônico pouco antes de o governo eliminar algumas regras para o setor, como algumas suspeitas de corrupção geradas por esta mistura entre negócios e política.

Surpresa!

As propriedades do presidente são mais visíveis porque Trump aparece nelas de surpresa, para grande alegria de seus clientes.

"O melhor foi quando POTUS e FLOTUS apareceram perto de mim e de minha esposa", comemorou recentemente em referência ao presidente e à primeira-dama um cliente australiano que se identificou somente como David, em uma avaliação on-line do hotel de Washington.

Em uma escala no Havaí a caminho da Ásia, o presidente também não pôde evitar hospedar-se em seu próprio hotel.

No entanto, a presidência não foi sinônimo de crescimento para a Trump Organization. 

A direção do grupo não quis dar entrevista à AFP. Entretanto, em um recente diálogo com o jornal The New York Times, Eric Trump, que com seu irmão Donald Jr. administra agora a Trump Organization, assegurou que praticamente renunciaram a lançar novos projetos durante o mandato de seu pai, para evitar a controvérsia e cumprir a promessa de evitar novos projetos no exterior.

Em Nova York, o grupo se desfez de um hotel no SoHo, boicoteado por muitas celebridades após a eleição. Segundo a imprensa local, muitas propriedades do grupo em redutos democratas como Nova York ou Chicago são vítimas de um crescente desprezo desde a campanha eleitoral.

A Trump Organization havia anunciado no final de 2016 o lançamento de uma nova rede de hotéis destinados a uma clientela de classe média chamada "Scion", um nome desprovido de qualquer referência a Trump, algo excepcional.

Favores não declarados

O primeiro Scion deve abrir este ano em Cleveland, uma pequena cidade do estado republicano de Missisipi (sul), e é o único novo projeto conhecido da Trump Organization desde a posse.

Os adversários do presidente ressaltam que o problema não são os lucros em alta ou baixa. 

O simples "potencial" que Trump tem para que seus negócios se aproveitem de sua presidência, e o que os governos estrangeiros têm de influenciá-lo através dos negócios, bastam para criar numerosos conflitos de interesse, aponta Evers.

Em uma ação apresentada em junho à Justiça, o senador democrata Richard Blumenthal e outros 200 legisladores citam vários exemplos de "favores" acordados por governos estrangeiros à Trump Organization, como o registro após a escolhas de marcas na China, que o grupo pedia há anos.

Blumenthal ressalta que toda receita ou contrato outorgado à Trump Organization por governos estrangeiros deve "ser submetido ao Congresso, que ele controla, antes de aceitá-los", conforme uma cláusula da Constituição sobre as remunerações adicionais.

A rejeição do presidente, que sempre se negou a publicar suas declarações de renda, "gera perguntas sobre o que ele tenta ocultar", disse o senador à AFP.

A Trump Organization, uma empresa familiar que não opera na Bolsa, não é obrigada a comunicar seus resultados. 

Documentos governamentais publicados em junho indicam simplesmente que Trump recebeu entre 600 e 650 milhões de dólares de receitas por seus ativos no último ano fiscal, com suas receitas de Mar-a-Lago, seu clube da Flórida reservado aos ricos e transformado em um tipo de "Casa Branca de inverno", em alta de 30 a 37 milhões.

"Existem todas os motivos para pensar que há muitas coisas que não sabemos, e essas coisas são provavelmente as mais perturbadoras", argumentou Blumenthal.

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