Malala Yousafzai, vencedora do Nobel da Paz em 2014 e ativista dos direitos das mulheres, retornou nesta quinta-feira (29) ao Paquistão, na primeira visita a seu país natal desde que sobreviveu a um ataque talibã em 2012.
"Estou muito feliz. Ainda não posso acreditar que estou aqui", disse Malala, muito emocionada, em um discurso pronunciado na residência do primeiro-ministro Shahid Khaqan Abbasi em Islamabad, horas depois de sua chegada, que surpreendeu o país.
"Nos últimos cinco anos sempre sonhei em poder retornar ao meu país", disse a jovem de 20 anos.
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"Estamos realmente felizes de que nossa jovem, que tanto tem feito pelo nome do Paquistão, esteja de volta à casa", afirmou Abbasi.
"Todo o mundo expressa seu respeito e aqui também é merecedora de um respeito absoluto", completou.
Acompanhada dos pais, Malala, de 20 anos, foi escoltada do aeroporto internacional Benazir Bhutto, em Islamabad, sob um forte esquema de segurança, segundo fotos exibidas pela TV local.
As autoridades não informaram se Malala pretende viajar a seu distrito natal de Shangla, ou à cidade de Mingora, local do atentado, ambas no vale de Swat (noroeste).
Símbolo mundial de defesa dos direitos humanos
Malala se tornou um símbolo mundial de defesa dos direitos humanos e ativista da educação de meninas depois que um homem armado invadiu seu ônibus escolar no vale do Swat, em 9 de outubro de 2012, e depois de perguntar "Quem é Malala?", atirou nela.
Depois de ser operada na Inglaterra e tratada de seus ferimentos na cidade inglesa de Birmingham, onde concluiu os estudos, se tornou uma grande ativista do direito à educação para as crianças.
Malala recebeu o Nobel da Paz em 2014, ao lado do indiano Kailash Satyarthi, por seu trabalho a favor da educação infantil.
Depois de morar com a família em Birmingham, região central da Inglaterra, onde estudou em um colégio para meninas, Malala entrou para a Universidade de Oxford, onde estuda Economia, Filosofia e Ciências Políticas.
A vencedora do Nobel da Paz ganhou a inimizade dos círculos islamitas radicais de seu país, que não aceitam a emancipação das mulheres. Mas também provocou receios entre uma parte da classe média paquistanesa, que é favorável ao direito à educação, mas não suporta que falem mal do Paquistão e demonstra ceticismo a respeito da luta contra os islamitas armados, que considera inspirada pelos Estados Unidos.
Muitos paquistaneses, no entanto, celebraram sua chegada ao país em mensagens no Twitter.
"Bem-vinda #MalalaYousafzai, a corajosa e resistente filha do Paquistão, de retorno a seu país", escreveu o político Syed Ali Raza Abidi.
Um famoso jornalista, Hamid Mir, pediu moderação aos analistas e políticos opositores em seus comentários sobre a visita da jovem.
"A imprensa internacional acompanha de perto seu retorno e (o uso de linguagem inadequada) prejudicará a imagem do Paquistão", disse.
Malala iniciou o ativismo em 2007, quando os talibãs aplicavam sua lei no vale de Swat (noroeste do Paquistão), antes uma aprazível região turística ao pé do Himalaia.
Seu pai, diretor de escola, teve grande influência sobre a jovem, cuja mãe é analfabeta. Com apenas 11 anos de idade, Malala escrevia em um blog do site da BBC em urdu, a língua nacional do Paquistão. Com o pseudônimo de Gul Makai, ela descrevia o clima de medo na região em que morava.
Em 9 de outubro de 2012, jihadistas do TTP (Movimento Talibã do Paquistão) atacaram o ônibus escolar de Malala e ela foi atingida por um tiro na cabeça.
A adolescente foi levada entre a vida e a morte para a Inglaterra, onde se recuperou.
A ativista, que se tornou um ícone mundial da luta contra o extremismo, afirmou em janeiro que esperava retornar algum dia a seu país, sonho realizado nesta quinta-feira.