Yulia Skripal disse nesta quinta-feira (5) que se sente "mais forte a cada dia" e se recupera do envenenamento que sofreu na Inglaterra junto com seu pai, o ex-espião russo Serguei Skripal, enquanto a Rússia nega qualquer envolvimento no caso ao Conselho de Segurança da ONU.
"Acordei há mais de uma semana e estou feliz de dizer que me sinto mais forte a cada dia", declarou Yulia Skripal, de 33 anos, em sua primeira mensagem pública desde o envenenamento, segundo um comunicado da polícia.
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Pouco antes, a televisão pública russa havia divulgado uma gravação de áudio apresentada como uma conversa por telefone entre Yulia Skripal e sua prima Viktoria, que mora na Rússia.
Na gravação, cuja autenticidade não foi provada, a pessoa que se apresenta como Yulia afirma que ela e seu pai estão se recuperando e que logo poderá sair do hospital.
A Rússia, a quem Londres acusa de ser responsável por este envenenamento, na origem de uma das maiores crises diplomáticas entre Moscou e o Ocidente desde a Guerra Fria, voltou a denunciar uma "campanha coordenada" contra o país.
"Acusam sem provas", afirmou o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, para quem "tentam desacreditar a Rússia".
Um dia depois de a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) se negar a incluir a Rússia em sua investigação sobre o caso, o diplomata exigiu respostas.
"Para onde os Skripal foram levados após seu envenenamento?" "De onde extraíram as amostras do agente nervoso?" "Por que a Rússia não teve o direito a um acesso consular às vítimas?" "Como puderam encontrar um antídoto tão rápido?" "O que aconteceu com os gatos dos Skripal que viviam em sua casa?" - questionou Nebenzia.
Na noite desta quinta-feira, uma porta-voz do ministério britânico do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais informou que um gato e dois porquinhos-da-índia coelhos foram encontrados mortos.
"Quando um veterinário conseguiu entrar na propriedade" de Serguei Skripal havia "dois porquinhos-da-índia mortos (...) e um gato agonizante que o veterinário decidiu sacrificar para acabar com seu sofrimento".
A porta-voz não precisou se os animais morreram envenenados ou de fome, já que após a internação de Skripal ficaram sem comida.
Crise entre a Rússia e vários países ocidentais
O envenenamento de Skripal, de 66 anos, e de sua filha, Yulia, em 4 de março em território britânico, desencadeou uma crise entre a Rússia e vários países ocidentais que, desde 14 de março, deu lugar à expulsão cruzada de 300 diplomatas.
Os 60 diplomatas americanos expulsos da Rússia partiram nesta quinta para os Estados Unidos.
"Não será possível ignorar as perguntas legítimas que apresentamos", advertiu o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, para quem a situação do caso Skripal "cria uma ameaça à paz e à segurança no mundo".
"Insistimos em uma investigação substancial e responsável, em conformidade com as disposições da Opaq", disse Lavrov.
A Rússia convocou na quarta-feira os Estados-membros da Opaq em Haia, mas não conseguiu convencê-los a incluí-los na investigação, o que reclama sem cessar desde meados de março.
Lavrov assegurou nesta quinta-feira que a Rússia "aceitará os resultados de qualquer investigação com a condição de que seja transparente e que possamos participar de maneira igualitária".
A embaixadora britânica na ONU, Karen Pierce, respondeu que transmitiram às vítimas o pedido de uma visita consular e assegurou que seu país seguiu todos os procedimentos legais e internacionais neste caso.
"Agora o mais importante é deixar que a Opaq" tire suas conclusões do caso, "mantendo o Conselho de Segurança informado", considerou. Segundo fontes diplomáticas, os resultados podem ser comunicados na semana que vem.
Os membros ocidentais do Conselho de Segurança reafirmaram seu apoio ao Reino Unido. "Não há outra explicação plausível que não a responsabilidade da Rússia", declarou o embaixador francês, François Delattre, enquanto para os Estados Unidos, a reunião do Conselho de Segurança era "uma nova tentativa da Rússia de usar (o organismo) com fins políticos".
"É urgente descobrir a verdade e tirar conclusões baseadas em provas irrefutáveis", destacou a China.
Na Opaq, Moscou propôs, em vão, que a Rússia investigasse conjuntamente com o Reino Unido sob a mediação do organismo internacional.
Desde o começo do caso, a Rússia considera que as declarações do laboratório militar britânico que analisou a substância utilizada contra o ex-espião lhe dão razão.
Embora o laboratório tenha a identificado como Novichok, um agente nervoso de tipo militar de concepção soviética, admitiu que não tinha nenhuma prova de que a substância empregada contra os Skripal tivesse sido fabricada na Rússia.
Segundo os meios de comunicação britânicos, os serviços de Londres conseguiram determinar a localização do laboratório russo onde foi fabricado o agente nervoso, que estaria sob a supervisão dos serviços de Inteligência exteriores de Moscou.