O suposto bombardeio com gás tóxico atribuído ao governo sírio, o qual teria deixado dezenas de mortos em Duma, provocou neste domingo (8) uma onda de críticas internacionais.
O governo de Bashar al-Assad e seu aliado russo negaram um ataque com armas químicas sábado (7) em Duma, último bastião rebelde de Ghuta Oriental, região ao leste de Damasco que o regime está a ponto de reconquistar totalmente.
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O presidente francês, Emmanuel Macron, que conversou neste domingo com seu homólogo americano, Donald Trump, "condenou com a maior firmeza os ataques químicos de 7 de abril contra a população de Duma em Ghuta Oriental", na Síria, anunciou o Eliseu em um comunicado.
Ambos os dirigentes "intercambiaram suas informações e suas análises, confirmando a utilização de armas químicas", e "decidiram coordenar suas ações e iniciativas no Conselho de Segurança das Nações Unidas", que deve se reunir nesta segunda-feira, acrescentou a presidência francesa.
A França já havia advertido, no domingo, que assumirá "todas as suas responsabilidades" após o suposto ataque químico, declarou o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian. Paris ameaçou, em várias ocasiões, bombardear alvos militares sírios se for demonstrado o uso de armas químicas.
Emmanuel Macron e Donald Trump acordaram "continuar estreitamente em contato e voltar a se falar nas próximas 48 horas".
Mais cedo, Trump tuitou: "O presidente Putin, a Rússia e o Irã são responsáveis por apoiarem o Animal Assad. Pagarão caro".
"Muitos mortos, incluindo crianças e mulheres em um insensato ataque QUÍMICO na Síria. Área de atrocidade está bloqueada e cercada pelo Exército sírio, tornando-a completamente inacessível para o mundo externo", completou o presidente.
Os capacetes brancos - os socorristas que operam nas zonas rebeldes na Síria -, um grupo rebelde e a oposição no exílio também acusaram o governo de ter atacado Duma com armas químicas ontem.
Em um comunicado conjunto, os capacetes Brancos e a ONG Syrian American Medical Society afirmam que 48 pessoas morreram neste ataque com "gás tóxico". Também falaram em "mais de 500 casos, em sua maioria de mulheres e crianças" que apresentam "sintomas de uma exposição a um agente químico".
Por iniciativa da França, nove países solicitaram uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, para esta segunda-feira, anunciaram fontes diplomáticas neste domingo.
Moscou, por sua vez, pediu outra reunião do Conselho, dedicada às "ameaças à paz no mundo".
Um vídeo divulgado pelos capacetes brancos no Twitter, que teria sido gravado depois do suposto ataque químico, mostra corpos inertes, com espuma branca saindo da boca.
Firas al-Dumi, um socorrista em Duma, falou de "cenas espantosas".
"Havia muitas pessoas sufocadas, algumas morreram imediatamente", relatou à AFP. "Era um massacre. Havia um odor muito forte que provocou dificuldades respiratórias nos socorristas".
O governo classificou essas acusações de "farsa" e de "fabricações". Moscou negou, categoricamente. Outro aliado de Damasco, Teerã considerou que essas acusações são um novo "complô" contra o governo.
Onda de críticas internacionais
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que obtém suas informações utilizando uma rede de informantes em toda a Síria, não pôde confirmar estas denúncias.
"Não existe uma guerra boa e uma guerra má, e nada – nada! – pode justificar o uso de tais instrumentos de extermínio contra pessoas e populações desarmadas", disse o papa Francisco na praça São Pedro, em Roma.
Londres afirmou, por sua vez, que "se ficar confirmado que o regime usou outra vez armas químicas, será um novo exemplo da brutalidade de Assad".
As autoridades turcas, que apoiam alguns grupos rebeldes ativos na Síria, disseram suspeitar que o governo esteja por trás desse ataque, de quem "se conhece os antecedentes sobre o uso de armas químicas".
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar "particularmente alarmado" com o suposto uso de gás.
A União Europeia (UE) afirmou, através do Serviço Europeu de Ação Exterior, que há "indícios" de que o regime sírio realizou um ataque químico em Duma, e instou a Rússia e o Irã a evitarem outro ataque.