PRÊMIO

Foto de uma Venezuela 'em chamas' vence World Press Photo 2018

A foto foi tirada no ano passado durante os violentos confrontos entre a polícia e os opositores ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro

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Publicado em 13/04/2018 às 2:02
Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP
A foto foi tirada no ano passado durante os violentos confrontos entre a polícia e os opositores ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro - FOTO: Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP
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O fotógrafo da AFP Ronaldo Schemidt venceu nesta quinta-feira (12) o prêmio de foto do ano do World Press Photo 2018 por uma espetacular imagem dos protestos em Caracas que, nas palavras do júri, simboliza um país "em chamas".

A foto foi tirada no ano passado durante os violentos confrontos entre a polícia e os opositores ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

O júri afirmou tê-la escolhido porque "desencadeia uma emoção instantânea".

Ronaldo Schemidt, que trabalha para a AFP no México, foi enviado à Venezuela, seu país, para cobrir as manifestações de 2017. Em 3 de maio, viu manifestantes pegarem uma moto da polícia, cujo tanque explodiu diante do rosto de José Víctor Salazar Balza, de 28 anos.

"Senti o fogo e reagi automaticamente. Levantei a câmera e comecei a tirar fotos de uma explosão. Ainda não sabia o que estava acontecendo, até alguns segundos depois", contou Ronaldo Schemidt à AFP.

Na foto premiada é possível ver o manifestante com uma máscara de gás correndo com o corpo em chamas. Segundo os organizadores do prêmio, o jovem sofreu queimaduras de primeiro e segundo grau, mas sobreviveu.

"A cena me impressionou muito. Foi surpreendente para mim porque não sabia que ia ter toda a sequência de fotos", reconheceu o fotógrafo. 

O prêmio foi entregue nessa quinta-feira (12) durante uma cerimônia em Amsterdã.

Venezuela 'em chamas'

O prêmio é um reconhecimento agridoce para o fotógrafo venezuelano, de 46 anos, que deixou seu país há 18 anos e cuja família também sofre com a falta de produtos básicos e a hiperinflação provocadas pela crise na Venezuela.

A violência vinculada às manifestações entre abril e julho de 2017 deixou 125 mortos.

Ao aceitar o prêmio, Schemidt dedicou a foto a sua família e "a todas as pessoas da Venezuela".

"A foto do ano deve contar um acontecimento", declarou a presidente do júri, a diretora de fotografia da revista Geo France, Magdalena Herrera. "Também deve gerar perguntas".

"Esta é uma fotografia clássica, mas tem uma energia e uma dinâmica instantâneas", apontou Herrera. Há "cores, movimento e tem uma composição muito boa".

"É bastante simbólica", explicou Whitney C. Johnson, membro do júri composto por sete pessoas e diretora adjunta de Fotografia da National Geographic. "O homem usa uma máscara no rosto. É como se não representasse a si, ou a si mesmo ardendo, mas a ideia de uma Venezuela em chamas".

"É uma fotografia muito poderosa e não é fácil de ser feita", elogiou em declarações à AFP o diretor do World Press Photo, Lars Boering, após a cerimônia.

Outro membro do júri, Bulent Kilic, chefe de Fotografia da AFP na Turquia, assinalou "um pequeno detalhe na imagem. Há uma pistola (pintada) na parede junto à qual se lê 'paz'". 

"Não havia visto. Vi muito depois porque isso foi uma sequência de fotos que começou desde que ele estava em chamas até correr alguns metros na minha direção, durante os 14 segundos que dura toda a cena", contou Schemidt.

 'Condições piores'

"Para mim, essa fotografia mostra o que aconteceu no ano passado na Venezuela com violência: os confrontos, o descontentamento social, o incômodo de uma população com um governo", assinalou.

"As pessoas saíam para protestar com a esperança de que algo acontecesse, de que houvesse uma mudança. Não aconteceu. E agora (...) o país está em condições piores do que no ano passado".

"Ser jornalista na América Latina e em países como os que eu trabalho ultimamente é muito difícil", explicou o fotógrafo.

A foto de Ronaldo Schemidt também venceu o prêmio na categoria "Spot News" do World Press Photo, cujo júri analisou este ano cerca de 73 mil imagens enviadas por 4.548 fotógrafos, em 125 países, que cobriam temas como a crise dos rohingyas e a guerra no Iraque.

Outros dois fotógrafos da AFP, Oliver Scarff e Juan Barreto, também foram recompensados com o World Press Photo.

Oliver Scarff, fotógrafo freelance com base em Londres, recebeu o prêmio principal na categoria "Sport" por uma imagem em preto e branco feita durante um jogo de futebol em Ashbourne, na Inglaterra. Juan Barreto, que trabalha em Caracas, conseguiu o terceiro lugar na categoria "Spot News" por fotografias feitas também durante os protestos na Venezuela.

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