O psicólogo por trás de um aplicativo que coletou dados de até 87 milhões de usuários do Facebook defendeu seu papel no escândalo e garantiu que "nunca escutou uma palavra" de oposição da rede social.
Aleksandr Kogan disse à CBS na noite de domingo que estava "sinceramente arrependido" da compilação de dados, mas insistiu que havia uma crença generalizada de que os usuários sabiam que seus dados estavam sendo vendidos e compartilhados.
Segundo o Facebook, o aplicativo de Kogan, "This Is Your Digital Life", foi baixado por 270 mil pessoas e deu acesso aos dados de seus amigos.
Os dados foram passados para a empresa Cambridge Analytica (CA) e usados na campanha que ajudou a eleger o presidente americano Donald Trump. Mas a empresa culpou Kogan por abusar do aplicativo, enquanto o psicólogo acusa a CA e o Facebook de usá-lo como bode expiatório.
"Naquele momento achamos que era bom. Acho que a ideia central que tínhamos - que todo mundo sabia e ninguém se importava - estava fundamentalmente errada. E, por isso, sinto muito, sinceramente", disse.
O psicólogo também acusou o Facebook de apresentar seu aplicativo como "desonesto" e insistiu, embora não esteja certo de ter lido a política dos programadores da rede social - que proíbe a transferência, ou venda, de dados dos usuários -, que o grupo tampouco se esforçou para fazê-la se cumprir.
"Tinha uns termos de serviço que estavam ali em cima durante um ano e meio e diziam que podia transferir e vender os dados. Nunca escutei uma palavra" contrário do Facebook, disse, referindo-se ao acordo do usuários para usar seu aplicativo.
"Claramente, o Facebook nunca se importou", acrescentou.
"A crença no Vale do Silício e, certamente, a nossa crença neste ponto era que o público em geral deve estar consciente de que seus dados são vendidos, compartilhados e utilizados para fazer anúncios", garantiu.
Na terça-feira (24), Kogan comparecerá diante de um comitê parlamentar britânico que investiga o escândalo, onde discutirá seus vínculos com a Cambridge Analytica. O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, exigiu há alguns dias que o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, compareça pessoalmente para dar explicações sobre o assunto.
Questionado na semana passada durante audiências no Congresso dos Estados Unidos, Zuckerberg admitiu que o Facebook coletava os dados de seus usuários, inclusive quando não eram membros a rede social.
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