BARCELONA - A escolha do deputado independentista Quim Torra para presidência da Catalunha não traz bons augúrios para o governo da Espanha, que desde a frustrada proclamação da república catalã, em outubro de 2017, mantém o território sob intervenção. Torra é um advogado, escritor e historiador de 56 anos, independentista convicto e mantém ligação estreita com o presidente cessado Carles Puigdemont, responsável por sua indicação ao cargo pelo grupo Juntos por Catalunha.
Mesmo tendo assumido o compromisso de dialogar com o primeiro ministro Mariano Rajoy (PP) desde o primeiro momento do seu governo, Torra já avisou que não abdica dos planos de efetivar a república independente proclamada. "Será que vocês não entendem que nunca vamos nos render?", questionou nesta segunda (14) da tribuna aos deputados da oposição. Os oposicionistas reclamavam do governo espanhol por não ter recorrido ao Tribunal Constitucional (TC) para impedir os votos delegados dos deputados exilados e presos que permitiram a sua vitória por maioria simples.
O primeiro encontro de Torra será exatamente com Puigdemont, nesta terça-feira (15), em Berlim, na Alemanha, onde o líder catalão espera a decisão da justiça daquele país sobre a ordem internacional de prisão emitida pela justiça espanhola. Puigdemont é acusado de rebelião, crime que já foi descartado pela corte alemã, e agora responde apenas à acusação de malversação de fundos públicos pela realização do referendo sobre a independência de 1º de outubro. Contudo, o próprio governo da Espanha enfraqueceu essa acusação ao garantir que nem um centavo público foi usado para patrocinar a votação.
EXPECTATIVA
Do encontro, que será sucedido por uma entrevista coletiva conjunta de Torra e Puigdemont, podem vir anúncios indigestos para Rajoy, que nesta terça tem encontro marcado em Madri com os líderes de Ciudadanos (pró-governo central), Albert Rivera, e do PSOE, Pedro Sanchez, para avaliar o significado da eleição de Torra.
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Rivera defende que Rajoy não suspenda o artigo 155 da constituição, o que significaria manter a vigência da interveção no governo catalão. Rajoy, contudo, pediu cautela e disse que só poderá agir diante de fatos, alegando que vigiará os atos de Torra.
De acordo com o texto aprovado no Senado, a intervenção na Generalitat cessará com a posse do governo, o que deve acontecer até o final desta semana. Antes disso, é preciso que o rei Felipe VI ratifique a nomeação de Torra, que já foi proposta e enviada por escrito ao monarca pelo presidente do parlamento catalão, Roger Torrent. Após a posse, Torra poderá nomear a sua equipe, abrindo passo para o fim da intervenção.
A questão é se Torra conseguirá concretizar os planos que já tem anunciados sem entrar em confronto direto com Madri. O presidente catalão quer reverter as medidas tomadas durante a intervenção, o que inclui a reabertura das representações diplomáticas no exterior. Pretende também estabelecer o Conselho da República, que seria coordenado por Puigdemont do exílio, e renomear os secretários cassados que desejem voltar aos cargos, entre presos e exilados. Garantiu ainda que não descansará enquanto os encarcerados não sejam soltos e os exilados voltem à Casa.
Com isso, a estabilização da situação tão almejada por Rajoy, que vê seu governo questionado em vários países europeus pelas duras medidas repressivas tomadas contra os independetistas até agora, parece estar longe de ser alcançada.