Israelenses e palestinos se preparavam para novos confrontos nesta terça-feira (15) nos territórios palestinos, um dia depois de um banho de sangue em Gaza, no dia mais violento em quatro anos na região, que terminou com 58 palestinos mortos por tiros de soldados israelenses.
Os palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia ocupada recordam a "Nakba", a "catástrofe", como definem a criação do Estado de Israel em 1948 e o êxodo de centenas de milhares de pessoas.
Nesta terça-feira, os mortos da véspera eram sepultados em Gaza. Os confrontos de segunda-feira (14) coincidiram com a inauguração da nova embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, a dezenas de quilômetros da fronteira entre o território palestino e Israel.
Enquanto representantes israelenses e americanos celebravam um "dia histórico" e a aliança entre os dois países, 58 palestinos, incluindo oito menores de idade, morreram por tiros de militares israelenses.
Na madrugada de terça-feira, o ministério da Saúde de Gaza anunciou a morte de um bebê após a inalação de gás lacrimogêneo durante os protestos.
Pelo menos 2.400 palestinos ficaram feridos, por tiros israelenses ou por inalar gás, de acordo com o ministério.
Os moradores de Gaza pretendem protestar novamente diante da cerca de segurança que separa o território de Israel.
Khalil al-Hayya, um dos líderes do Hamas, movimento islamita que governa a Faixa de Gaza, afirmou que as manifestações devem prosseguir.
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O Hamas, que enfrentou Israel em três guerras desde 2008, apoia a mobilização e afirma que esta é uma iniciativa civil, um movimento pacífico. Os milhares de combatentes do grupo não utilizaram suas armas até o momento, mas Al-Hayya deu a entender que isto pode mudar.
'Qualquer atividade terrorista terá resposta'
O exército israelense acusa o Hamas de utilizar este movimento para misturar combatentes armados entre a multidão ou para colocar artefatos explosivos na fronteira.
As autoridades israelenses mobilizaram milhares de soldados ao redor da Faixa de Gaza e na Cisjordânia pelo receio de novos distúrbios.
"Qualquer atividade terrorista terá uma resposta", advertiu o governo.
Israel teme que os palestinos derrubem a cerca de segurança e entrem em seu território. O governo alertou que utilizará "todos os meios" para proteger a barreira, seus soldados e os civis.
Ao mesmo tempo, o governo afirma que seus soldados só utilizam balas letais como último recurso.
Também estão previstas manifestações na Cisjordânia, a dezenas de quilômetros da Faixa de Gaza. Os dois territórios estão separados pelo território israelense.
Israel recebeu críticas pelo uso excessivo de força no conflito desta segunda-feira.
O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir durante a tarde, a pedido do Kuwait.
Nesta terça-feira, a China pediu moderação, "especialmente a Israel (...) para evitar uma escalada de tensão".
As autoridades palestinas denunciaram um "massacre". Turquia e África do Sul decidiram convocar para consultas seus embaixadores em Israel.
Ancara acusou Israel de "terrorismo de Estado" e de "genocídio", atribuindo parte da responsabilidade ao governo dos Estados Unidos.
A França "condenou a violência das Forças Armadas israelenses contra os manifestantes" palestinos.
Mas o governo dos Estados Unidos, aliado histórico de Israel e cujo presidente Donald Trump multiplicou os gestos favoráveis ao Estado hebreu, bloqueou na segunda-feira a aprovação de um comunicado do Conselho de Segurança que expressava "indignação e tristeza com as mortes de civis palestinos que exercem seu direito de manifestação pacífica".
A Anistia Internacional chegou a mencionar "crimes de guerra".
Desde 30 de março, a Faixa de Gaza é cenário de protestos conhecidos como a "a grande marcha de retorno". O movimento defende a reivindicação dos palestinos a retornar para as terras das quais fugiram ou foram expulsos com a criação de Israel em 1948.
O movimento também denuncia o bloqueio imposto há mais de 10 anos à Faixa de Gaza por Israel para conter o Hamas.