A direção da campanha do presidente Nicolás Maduro, reeleito em eleições questionadas, afirmou nesta segunda-feira (21) que não se importa de que os países do Grupo de Lima não reconheçam os resultados da votação.
"Para nós não importa a opinião desses (países), não são nem mesmo seus povos, nós somos irmãos dos povos desses países", disse em entrevista coletiva o chefe de campanha e ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez.
O dirigente considerou que o comunicado em que o Grupo de Lima rejeita as eleições "faz parte de uma agenda de agressão contra a Venezuela", orquestrada pelos Estados Unidos e pela "direita venezuelana" para tentar desestabilizar Maduro.
"Estamos dispostos ao diálogo com todos os setores e todos os países, mas não nos imponham nada, esqueçam", advertiu Rodríguez.
Os 14 países do Grupo de Lima convocaram seus embaixadores em Caracas para consultas e concordaram em "reduzir o nível de suas relações diplomáticas com a Venezuela", em protesto contra o polêmico processo eleitoral que resultou na reeleição do presidente Nicolás Maduro - anunciou a organização.
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Protesto
Os países do Grupo de Lima "não reconhecem a legitimidade do processo eleitoral que teve lugar na República Bolivariana da Venezuela, concluído em 20 de maio passado, por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente", diz um comunicado oficial.
Por este motivo, os países signatários - Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia - "concordam em reduzir o nível de suas relações diplomáticas com a Venezuela, razão pela qual chamarão para consultas os embaixadores em Caracas e convocarão os embaixadores da Venezuela para expressar nosso protesto".
O grupo decidiu ainda fazer uma reunião durante a primeira quinzena de junho no Peru. O encontro contará com a presença de autoridades responsáveis por temas migratórios, para abordar o preocupante aumento do fluxo de venezuelanos obrigados a abandonar seu país e pelo impacto que esta situação tem na região.
Também pretende "coordenar ações para que as organizações financeiras internacionais e regionais procurem não conceder empréstimos ao governo da Venezuela, devido à inconstitucionalidade de contrair dívida sem o endosso da Assembleia Nacional, exceto quando o financiamento é utilizado em ações de ajuda humanitária".
O texto alerta em particular sobre o risco de uma "emergência epidemiológica", provocada pela "grave situação humanitária na Venezuela, com implicações em termos de saúde pública para toda a região".
Para enfrentar a ameaça, pede "apoio ao fornecimento de medicamentos por instituições independentes e as ações de vigilância epidemiológica na Venezuela e em seus países vizinhos, em particular ante o ressurgimento de doenças como sarampo, malária e difteria".
O comunicado defende "intensificar e ampliar, por meio dos mecanismos existentes, o intercâmbio de informações de Inteligência financeira sobre as atividades de indivíduos e empresas venezuelanas que possam estar vinculados a atos de corrupção, lavagem de dinheiro, ou outras condutas ilícitas".
Em outro comunicado, o governo brasileiro afirmou que as eleições venezuelanas não tiveram "legitimidade e credibilidade".
Maduro foi reeleito no domingo com 68% dos votos válidos, contra 21,2% para o opositor Henri Falcón, que denunciou fraudes. A principal coalizão opositora, no entanto, boicotou a votação, que registrou um índice de abstenção de 52%, um recorde histórico.
O processo eleitoral foi criticado ao longo da campanha por vários países. O governo dos Estados Unidos o chamou de "farsa".
Em contraste, o presidente russo, Vladimir Putin, felicitou Maduro, somando-se aos aliados Bolívia, Cuba, China e El Salvador que pediram respeito aos resultados.