A tensão aumenta entre Donald Trump e o Irã: o tuíte do presidente dos Estados Unidos que ameaça Teerã gerou na segunda-feira (23) uma resposta igualmente belicosa, subindo a aposta em um jogo de pressão de alto risco.
O tuíte ameaçador de Trump - enviado domingo à noite ao presidente iraniano, Hassan Rohani, e escrito todo em letras maiúsculas, o equivalente digital de gritar - suscitou dúvidas sobre a estratégia de Washington para a República Islâmica.
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Os analistas, que costumam assumir que os Estados Unidos apoiam a ideia de uma mudança de regime no Irã, interpretaram a postura atual de Trump como uma tentativa de distrair a atenção das polêmicas declarações do presidente após a cúpula na segunda-feira passada com o chefe de Estado russo Vladimir Putin, e dos questionamentos sobre o avanço das negociações com a Coreia do Norte.
O ruído de comunicação começou quando Hassan Rohani advertiu Trump a não "brincar com fogo", garantindo que um conflito com o Irã seria "a mãe de todas as guerras", desencadeando a fúria de Trump.
"NUNCA MAIS VOLTE A AMEAÇAR OS ESTADOS UNIDOS OU SOFRERÁ CONSEQUÊNCIAS QUE MUITOS POUCOS SOFRERAM AO LONGO DA HISTÓRIA", tuitou Trump em mensagem direta ao presidente iraniano.
"NÃO SOMOS MAIS UM PAÍS QUE SUPORTARÁ SUAS PALAVRAS DEMENTES DE VIOLÊNCIA E MORTE. TENHA CUIDADO!" - acrescentou Trump.
Horas mais tarde, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, replicou, também no Twitter e com as letras maiúsculas: "NÃO ESTAMOS IMPRESSIONADOS".
"Existimos há milênios e vimos a queda de impérios, incluindo o nosso, que durou mais do que a vida de alguns países. SEJA PRUDENTE!", disse.
Embora a "postura firme" de Trump tenha sido elogiada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também provocou muitas dúvidas sobre seu exato significado e impacto.
Consultada sobre as motivações do presidente, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, apontou que a prioridade é "a segurança do povo americano" e garantir que Teerã não desenvolva armas nucleares.
No entanto, pareceu minimizar a importância do tom agressivo, dizendo que Trumpfoi "bastante forte desde o primeiro dia em sua linguagem em relação ao Irã".
"Nenhuma preocupação"
No dia 8 de maio, Trump - que transformou o Irã em seu inimigo público número um - anunciou a retirada dos Estados Unidos do que classificou como um acordo nuclear multinacional "defeituoso" com Teerã, e se dispôs restabelecer sanções punitivas.
Em Washington, as duras palavras de Trump foram vistas como uma cortina de fumaça política.
"Frustrado pela falta de progresso com a Coreia do Norte, irritado com as reações negativas depois da cúpula de Helsinque, Trump tenta mudar de assunto", declarou Aaron David Miller, ex-diplomata e negociador nos governos democratas e republicanos.
Segundo Rob Malley, presidente do International Crisis Group, os líderes europeus "não estão levando a sério" o tuíte, encarando como uma forma de tirar a atenção de Putin e de Robert Mueller, o procurador especial que investiga o possível conluio entre Moscou e a equipe de Trump nas eleições de 2016.
O presidente manteve sua postura. Quando jornalistas na Casa Branca perguntaram a Trump se as tensões com Irã geram preocupações, ele respondeu: "Nenhuma".
- "Retórica imprudente" -
Embora os dois casos sejam muito diferentes em muitos sentidos, o tuíte de Trumplembra a retórica usada no ano passado contra o regime da Coreia do Norte. Muitos especialistas enxergam similaridades com a campanha de "pressão máxima" do presidente americano com Pyongyang.
Em setembro de 2017, em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU, Trump ameaçou "destruir totalmente" a Coreia do Norte, atacando violentamente o "regime desonesto" de Pyongyang.
Depois disso, emplacou o processo de negociações com Pyongyang que resultou na cúpula realizada no dia 12 de junho em Singapura com o líder norte-coreano Kim Jong Un, que havia chamado de "Little Rocket Man" (Pequeno Homem Foguete).
Entretanto, mais de um mês após o encontro histórico, muitos observadores apontam a falta de avanços concretos sobre a "desnuclearização completa da península da Coreia" revindicada pela comunidade internacional.
Nesta segunda-feira, Trump disse estar "muito contente" com o avanço das negociações e criticou a imprensa, segundo ele propagadora de "fake news", de indicar o contrário.
Os opositores democratas criticaram as bravatas de Trump no Irã.
"A retórica imprudente em relação ao Irã cria riscos, especialmente se as palavras não se basearem em uma estratégia concreta", disse o senador Richard Blumenthal.