A brasileira Tuca Oliveira, 35 anos, que mora há quase três anos em Rafina, região de Atenas afetada pelo incêndio que já causou a morte de 79 pessoas, disse que viveu momentos de desespero ao tentar fugir das chamas. Ela e o marido que é grego acompanhavam o movimento de helicópteros que buscavam água no mar para tentar apagar o fogo na floresta, comum neste período do ano.
“Foi muito desesperador entender e ver que as pessoas não estavam tendo dimensão do que estava acontecendo, que estavam muito perdidas, e que muita gente não ia conseguir se salvar. A gente passou na casa de uma cunhada que, a princípio, se recusou a seguir conosco, mas meu marido não deu opção a ela”, disse.
De acordo com Tuca, era o dia mais quente do ano e o vento estava muito forte (120km/h). “Estávamos tranquilos porque jamais pensamos que chegaria até a gente. Mas começamos a nos preocupar quando os helicópteros se perderam na fumaça que se alastrava muito rápido, escondendo tudo”, contou a editora de vídeo em entrevista à Agência Brasil.
Segundo ela, foram vinte minutos entre o início da conversa e o tempo para que as labaredas chegassem até a sua rua. Como conseguiam ver o mar e a floresta do apartamento, o casal percebeu que corria o risco de ficar preso em um engarrafamento, caso seguissem na direção em que a maioria da população tentava escapar. Contrariando o que parecia mais seguro, eles decidiram seguir para a floresta, local mais afetado. Eles apostaram em continuar o caminho seguindo a direção contrária do vento.
Tuca contou que muitas pessoas ficaram em suas casas sem acreditar nas proporções do desastre. Enquanto Rafina tem edifícios em concreto em meio ao verde, o povoado ao lado, Mati, ficou completamente destruído, já que prevaleciam casas no local e, muitas, de madeira.
A cidade de Mati, a mais atingida pelo fogo e onde ocorreram todas as mortes, permanecerá sem água por 15 dias e sem eletricidade por um mês. Centenas de pessoas fugiram em direção ao mar para tentar se salvar. Entretanto, segundo a brasileira, para chegar até a praia as pessoas precisam caminhar pela floresta e conhecer bem o local.
“As pessoas ficaram perdidas pelo nervosismo ou pela fumaça, não enxergavam e chegavam ao precipício. É preciso saber como descer por ali até o mar”, disse.
“Encontraram 26 pessoas que morreram, todos abraçados, esperando o fogo na beira de um precipício desses. Era pular ou esperar para morrer queimado”, lamentou. Esse grupo seguia moradores que conheciam o caminho, mas se perderam no trajeto em meio à fumaça.
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Solidariedade
Rafina é um povoado pequeno. As crianças se reúnem nas praças e há muitos moradores apaixonados pelo mar. Segundo a brasileira, o local é marcado pelo senso de comunidade entre os moradores. Tuca ainda não voltou para casa. Foi até o apartamento e percebeu que não teve prejuízo material, mas viu um povoado destruído. “Vai ser um luto. Com essa tragédia vai ser pesado, mas é vida que segue”, lamentou.
Apesar de todos os danos e as mortes, a brasileira garantiu que o clima em Atenas é de solidariedade. “Por incrível que pareça, as pessoas não estão para baixo. Estão determinadas a buscar como ajudar, doar sangue. O grego é um povo muito solidário e unido”, destacou.
“Nós, por exemplo, procuramos um apartamento para alugar distante dali e quando o proprietário soube que éramos de Rafina, ele disse para ficarmos o tempo necessário sem precisar pagar”, disse.
O casal aguarda a chuva prevista para o próximo final da semana em Rafina. O cheiro no local ainda é muito forte, mesmo sem fumaça, mas tanto a energia elétrica quanto a distribuição de água já foram normalizados. “Acho que voltamos no sábado, mas vai ser a tristeza de voltar e ver tudo ao redor queimado, ver o prejuízo das pessoas, e procurar saber quem sobreviveu”, afirmou.
Vítimas
De acordo com a primeira avaliação das autoridades locais, mais de 2,5 mil casas nas localidades de Vutza, Nea Makri, Mati e Rafina ficaram completamente destruídas. Mais 4 mil foram gravemente afetadas.
O prefeito da cidade portuária de Rafina, localizada a 30 quilômetros de Atenas, Evangelos Bournous, estima que aproximadamente 25 pessoas estão desaparecidas e o número de mortos pode chegar a 100.
Do total de 187 feridos, permanecem hospitalizados 71, dos quais dez estão em estado crítico. De acordo com o centro nacional de urgências, 11 menores que ainda estão hospitalizados devem receber alta hoje. Em Rafina, 130 soldados do Exército e do Corpo de Bombeiros participam dos trabalhos de busca.