O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira (31) que tem "a sensação" de que os líderes iranianos falarão "em breve" com as americanos, apesar do ceticismo de Teerã em relação a um possível diálogo.
"Tenho a sensação de que eles estarão conversando conosco em breve", disse Trump em um comício em Tampa, Flórida, antes de acrescentar: "E talvez não, e tudo bem também".
Trump aproveitou a ocasião para novamente atacar o "terrível e unilateral" acordo nuclear entre o Irã e as potências mundiais, do qual o presidente americano se retirou.
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Na véspera, Trump se disse disposto a se reunir com os líderes do Irã "quando eles quiserem" e "sem pré-condições".
"Eu me reuniria com (dirigentes do) Irã se eles quisessem se reunir. Não sei se eles já estão prontos", disse Trump em uma coletiva de imprensa na Casa Branca junto ao primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte. "Provavelmente acabarão querendo se reunir e estou pronto para quando queiram".
Mas o Irã recebeu com ceticismo a oferta de Trump e as reações foram, em geral, muito negativas nos círculos políticos iranianos.
O vice-presidente do Parlamento, Ali Motahar, declarou à agência Fars que discutir com Trump "seria uma humilhação".
"A América não é confiável", apontou por sua vez o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, segundo a Fars. "Depois de sua retirada arrogante e unilateral do acordo nuclear, como podemos confiar?"
No Twitter, um assessor do presidente iraniano Hassan Rohani assegurou que qualquer discussão com os Estados Unidos deveria começar com "o respeito pela grande nação iraniana, a redução das hostilidades e o retorno dos Estados Unidos ao acordo nuclear" de 2015, estimou Hamid Aboutalebi.
Pouco antes das palavras de Trump, o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores havia considerado como "impossíveis" discussões com a atual administração americana.
"Washington revela sua natureza indigna de confiança dia após dia", declarou Bahram Ghasemi à agência Mehr, citando "as medidas hostis dos Estados Unidos após sua retirada (do acordo nuclear) e o restabelecimento das sanções econômicas" americanas contra Teerã.
O presidente Trump está se preparando para reimpor as sanções em duas etapas, em 6 de agosto e em novembro.
Ele disse que quer obter, através de sua estratégia de "pressão máxima", um novo acordo que iria além de limitar o programa nuclear de Teerã e permitiria limitar sua influência regional e seu programa balístico.
Para Mohammad Marandi, professor da Universidade de Teerã e um dos negociadores iranianos do acordo nuclear de 2015, o Irã "não pode negociar com alguém que viola compromissos internacionais, ameaça destruir países e muda constantemente de posição".
"Tabu"
Como muitos outros, ele estima que o retorno dos Estados Unidos ao acordo deve ser uma condição prévia a qualquer discussão.
Raros são aqueles que se mostraram compreensivos, como presidente da comissão de Relações Exteriores no Parlamento.
"Negociações com os Estados Unidos não devem ser tabu", disse Heshmatollah Falahatpisheh à agência Isna. "Por causa de uma desconfiança histórica, as relações diplomáticas foram destruídas" e não há escolha a não ser procurar reduzir as tensões, segundo ele.
Há uma semana, Rohani e Trump trocaram declarações tensas.
O presidente iraniano havia evocado a perspectiva da "mãe de todas as guerrar", enquanto o americano prometeu "consequências jamais vistas na história".
Nas ruas de Teerã, a população sente cada vez mais as dificuldades econômicas, principalmente a crise monetária, que fez o rial perder quase dois terços de seu valor em relação ao dólar desde o início do ano.
"Todos nós acreditamos que Trump é o inimigo do Irã, mas quem sabe ele não quer dar uma chande ao povo iraniano e, se Deus quiser, isso pode nos ajudar a sair do desastre", considerou Hushiar, funcionário de um escritório.
"Se os americanos querem realmente negociar sem condições prévias, deveriam pelo menos continuar no acordo ou nos deixar comercializar com a União Europeia", ressaltou Morteza Mehdian, um engenheiro. "Mas a realidade é que este homem (Trump) é um mentiroso e suas palavras não têm valor".
Esta afirmação continua a ser a linha oficial do regime. Há 10 anos, o guia supremo Ali Khamenei aponou que as discussões com os Estados Unidos seriam "inúteis".