SAÚDE MENTAL

Estudos expõem ferida psicológica deixada por atentados de 2015 na França

Os atentados cometidos por extremistas islâmicos marcaram profundamente os franceses

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Publicado em 13/11/2018 às 16:34
Foto: BENOIT TESSIER / POOL / AFP
Os atentados cometidos por extremistas islâmicos marcaram profundamente os franceses - FOTO: Foto: BENOIT TESSIER / POOL / AFP
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Os atentados cometidos por extremistas islâmicos que sacudiram a França em 2015 marcaram profundamente os franceses, tanto no plano da saúde mental como da memória coletiva, atesta um compêndio de estudos publicados nesta terça-feira (13).

Em 13 de novembro de 2015, 130 pessoas morreram em uma série de ataques jihadistas em Paris, quando a França ainda estava em choque pelos atentados de janeiro, o pior deles contra o semanário satírico Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos.

Batizado de "13 de novembro", o programa da agência Saúde Pública França ilustra as cicatrizes de saúde, psicológicas e sociológicas deixadas por estes massacres.

Entre as testemunhas e pessoas diretamente expostas aos atentados de novembro, 39% apresentavam oito meses depois estresse pós-traumático (ESPT), igualmente detectado em 20% das pessoas expostas aos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e em 11% dos afetados no ataque na ilha de Utoya, na Noruega. 

Destes 39%, quase um em cada dois (46%) declarou não ter se submetido a nenhum tratamento regular com psicólogo ou médico.

No que diz respeito aos atentados de janeiro, 18% dos afetados sofriam ESPT e 20%, transtornos depressivos ou de ansiedade, segundo os estudos realizados 6 e 18 meses depois dos acontecimentos com 190 civis (reféns, feridos, testemunhas, familiares e amigos das vítimas).

Cinquenta e três por cento deles receberam ajuda psicológica nas primeiras 48 horas, mas o estudo preconiza ampliar este apoio a todos os afetados, visto que os transtornos de saúde mental afetavam 40% deles.

Os atentados de 13 de novembro tiveram repercussões para além do círculo mais próximo das pessoas afetadas.

Pico nos serviços de emergência 

Na região de Ile-de-France, onde fica Paris, houve um pico sem precedentes de acessos aos serviços de urgência no dia seguinte aos atentados, seguido de outro no dia 16, sobretudo de pessoas na faixa de 15 a 44 anos.

Os dois principais diagnósticos foram estresse pós-traumático e reação aguda ao estresse. Também registrou-se um aumento nas consultas no restante do país.

 "Fala-se demais" dos atentados 

Até mesmo para os franceses mais distanciados dos atentados, os ataques tiveram forte impacto.

Sete meses depois do 13-N, quase todas as pessoas interrogadas pelo Centro de Pesquisas para o Estudo e a Observação das Condições de Vida (Crédoc) recordavam as circunstâncias precisas em que souberam da notícia, o que se denomina "flash bulb memory" (memória flash).

Um quarto dos 2.010 franceses consultados pelo Crédoc afirmou ter um vínculo pessoal com uma vítima ou uma testemunha ou com um dos locais atacados, como o estádio de futebol de Saint-Denis, onde se disputava o jogo França-Alemanha, e sobretudo a casa de shows Bataclan.

Os menores de 40 anos, com maior afinidade aos locais alvo dos ataques, parecem ter sido particularmente afetados.

Além disso, três em cada quatro franceses asseguraram que precisavam continuar abordando o tema, mas 25% consideraram que se fala demais sobre ele.

Entre as consequências dos atentados, os entrevistados citaram nesta ordem "o sentimento de medo", "as medidas de segurança reforçadas", "uma ameaça às liberdades individuais" e "uma sociedade dividida".

Paralelamente a estes estudos, os especialistas realizam pesquisas - ainda em curso - para determinar como os atentados afetaram o cérebro das pessoas diretamente expostas.

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