Um grupo de 13 países da Organização dos Estados Americanos (OEA) instou nesta quarta-feira (26) ao presidente venezuelano Nicolás Maduro que suspenda o processo da Assembleia Nacional Constituinte, cuja eleição está marcada para o próximo domingo (30). Nesta data, os venezuelanos estão convocados a ir às urnas para eleger os mais de 500 membros de uma Constituinte que redigirá uma nova Constituição e poderá até reordenar o Estado. A informação é da EFE.
"Instamos o governo da Venezuela a suspender o processo da Assembleia Nacional Constituinte que implicaria no desmantelamento definitivo da institucionalidade democrática e seria contrário à vontade popular expressa na consulta de 16 de julho", afirma o texto, que não será submetido à votação.
A declaração foi lida na OEA pelo embaixador panamenho, Jesús Sierra, e é assinada por Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru. Estes 13 países pertencem ao grupo de 14 nações que promovem a mediação da OEA na crise da Venezuela, com exceção do Uruguai, que não explicou, por enquanto, porque não assinou.
Leia Também
A declaração emitida hoje tem como principal objetivo definir a posição destas nações perante a Constituinte e mostrar que mantêm sua vontade de continuar se ocupando da crise venezuelana, segundo disseram à Agência EFE fontes diplomáticas.
Acirramento da crise
O texto reforça a "importância de estabelecer o mais rápido possível um grupo ou outro mecanismo de facilitação para apoiar um processo de diálogo e negociação entre o governo e a oposição". Além disso, as nações signatárias expressam sua "profunda preocupação pela grave alteração da ordem democrática na Venezuela, a agudização da crise e o aumento da violência".
"Fazemos um chamado urgente ao respeito absoluto aos direitos humanos e à ordem constitucional, incluindo a separação de poderes. Neste sentido, condenamos o ataque à Assembleia Nacional e outros atos de violência e declaramos nossa disposição de apoiar iniciativas para atender as necessidades econômicas, sociais e humanitárias mais urgentes do país, especialmente o fornecimento de alimentos e remédios", completa o documento.
Por outro lado, as missões da Venezuela, Bolívia e Nicarágua na OEA expressaram sua rejeição a que o Conselho Permanente do órgão aborde uma vez mais a crise da nação caribenha sem o consentimento do seu governo.
Greve e protestos
A Venezuela vive desde abril uma onda de protestos, alguns dos quais se tornaram violentos e já deixaram mais de 100 mortos e mais de mil detidos. A oposição venezuelana convocou uma greve geral de 48 horas em todo o país que se inicia hoje como parte das manifestações contra a Constituinte.
Caracas
Caracas, a capital da Venezuela, amanheceu nesta quarta-feira (26) parcialmente paralisada e com ruas interditadas em várias regiões, especialmente nos principais redutos antichavistas no leste da cidade, enquanto que na zona oeste a rotina dos moradores transcorre com relativa normalidade. As informações são da agência de notícias EFE.
Desde as 7h locais (8h de Brasília), barricadas e bloqueios nas ruas e estradas impedem o trânsito principalmente nos municípios de El Hatillo, Chacao e Sucre, todos governados pela oposição, e a locomoção ficou limitada a motociclistas e pedestres.
O metrô de Caracas funciona com normalidade, exceto nas estações que passam pelo município de Chacao, e registra um fluxo pequeno de usuários.
Apenas alguns estabelecimentos comerciais e as instituições bancárias operam com normalidade.
Já na zona oeste da capital, uma área tradicionalmente chavista, a EFE constatou que o trânsito não foi bloqueado, exceto em algumas áreas de classe media, onde quase todos os estabelecimentos comerciais estavam fechados.
Nos bairros mais desfavorecidos, por outro lado, os vendedores ambulantes e boa parte dos estabelecimentos formais funcionavam com normalidade, mas o fluxo de pessoas nas ruas era menor que o habitual.
Constituinte
A greve tem como objetivo pressionar o governo de Nicolás Maduro e impedir a eleição da Assembleia Nacional Constituinte prevista para o próximo domingo (30).
A Fedecamaras, a principal associação patronal da Venezuela, expressou apoio à greve geral e a reconhece como um "protesto popular de expressão democrática".
A greve de trabalhadores e empresários coincide com a penúltima jornada de campanha eleitoral do chavismo para a eleição da Assembleia Constituinte, e que mantém atos e mobilizações em todo o país.
O protesto de oposição se estenderá até a meia-noite de amanhã, e coincidirá também com o encerramento de campanha do chavismo para a constituinte.