Os supostos autores dos ataques em Barcelo e Cambrils, nordeste da Espanha, preparavam atentados de maior proporção, mas tiveram que abrir mão de seus planos, informou a Polícia catalã nesta sexta-feira (18), quando o número de vítimas do duplo atentado aumentou para 14 mortos e 120 feridos.
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Ao anunciar os resultados das investigações, o delegado-chefe da polícia regional da Catalunha afirmou que o principal suspeito, o motorista que jogou a van contra uma multidão em Barcelona, pode estar entre os cinco supostos terroristas mortos pelas forças de segurança na madrugada desta sexta em Cambrils, 120 km a sudoeste de Barcelona.
A Polícia deteve até o momento quatro suspeitos em outras duas localidades na Catalunha, três marroquinos e um espanhol nascido no encrave de Melilla, com idades entre 21 e 34 anos e sem antecedentes relacionados com o terrorismo. Também identificou três dos cinco supostos terroristas abatidos, mas não revelou detalhes.
Os dois atentados seguiram o mesmo modus operandi, com motoristas que jogaram deliberadamente seus veículos contra os pedestres, no último ataque desse tipo na Europa.
Em meio ao clima de consternação, em uma manifestação excepcional, o rei Felipe VI, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, e seu colega catalão, Carles Puigdemont, junto a milhares de cidadãos, mantiveram ao meio-dia desta sexta um minuto de silêncio em Barcelona, em homenagem às vítimas, seguido de um longo aplauso aos gritos de "no tinc por" ("não tenho medo" em catalão).
Massacre maior
O massacre, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), poderia ter sido muito pior, admitiu a polícia.
"A tese com que estamos trabalhando é que já estavam se preparando há algum tempo nos arredores do domicílio de Alcanar", onde, na noite de quarta, ocorreu uma explosão, afirmou Josep Lluis Trapero.
"A explosão em Alcanar fez evitar atentados de maior alcance do que o registrado", acrescentou, assinalando que os terroristas tentaram atuar "de maneira rudimentar na esteira dos outros atentados em cidades europeias".
Desta forma, atacaram primeiro na quinta-feira em Barcelona, em um horário da tarde em que a avenida Las Ramblas estava cheia de turistas, usando uma van branca que cruzou à toda velocidade atropelando dezenas de pedestres, e matando 13 pessoas.
O motorista abandonou o veículo e saiu correndo. Seu paradeiro ainda é oficialmente desconhecido.
Horas mais tarde, passada a meia-noite local, um Audi A3 atropelou várias pessoas no passeio marítimo de Cambrils. o carro se chocou contra uma patrulha da polícia regional, que disparou contra os suspeitos.
A Polícia acredita que os dois ataques sejam obra de um grupo de pessoas, cujo número não foi informado, vinculadas com a descoberta de quatro veículos e as quatro localidades catalãs no centro das investigações: Barcelona, Cambrils, Alcanar e Ripoll, onde foram detidas três pessoas, entre elas Driss Oukabir, irmão de outro suspeito.
Segundo a imprensa local, as autoridades ainda procuram ouros quatro suspeitos.
Pedindo unidade, o chefe de Governo Mariano Rajoy expressou, em Bacelona, que "é muito importante que sejamos capazes de trabalhar juntos, como uma equipe", em uma mensagem velada ao governo separatistas catalão, que anseia separar-se da Espanha.
Histórias trágicas
Há ao menos 35 nacionalidades entre as vítimas de Barcelona, originárias de França, Estados Unidos, Austrália, Irlanda, Venezuela, Peru, Argélia e China, entre outros países, segundo a agência espanhola de Defesa Civil.
Dois italianos, uma belga, uma portuguesa e um americano morreram no atentado de Barcelona, segundo seus respectivos governos.
Dos 126 feridos nos ataques, 61 receberam alta, mas 17 continuam em estado crítico, segundo o mais recente balanço.
As histórias trágicas e consternadoras das famílias atingidas pelos ataques dominaram as manchetes desta sexta-feira.
"Desaparecido em Barcelona", diz um post postado no Facebook por Tony Cadman, que procura seu neto de 7 anos que desapareceu no ataque de Las Ramblas.
Junto ao texto, a foto mostra um menino sorridente, identificado como Julian Alessandro Cadman, usando um blusão de moletom verde e com o nome de sua creche.
"Encontramos Jom (minha nora) e seu estado é grave, mas estável no hospital, mas o menino ainda não apareceu", continua o post.
Experiência em terrorismo
A Espanha, o terceiro destino turístico mais popular do mundo, tinha estado até então à margem dos recentes ataques extremistas que o EI realizou em França, Bélgica, Alemanha e Reino Unido.
Mas, em 11 de março de 2004, o país foi cenário dos piores atentados extremistas cometidos na Europa, quando várias bombas explodiram em trens na região de Madri e deixaram 191 mortos. Os ataques foram reivindicados pela Al-Qaeda.
Esta experiência e a longa luta contra os atentados da organização separatista basca ETA levaram o país a reforçar o serviço de Inteligência e a adotar uma política de prisões preventivas de suspeitos de extremismo.
Catalunha, Madri e os territórios espanhóis de Ceuta e Melilla, no Marrocos, são as áreas de maior concentração de islamitas radicais.
Mais de um terço das pessoas condenadas por atividades relacionadas com o extremismo moravam em Barcelona e 35,4% em Madri, de acordo com um relatório do centro de pesquisas Real Instituto Elcano.