Instituto Uninassau

Pesquisa aponta que, para os eleitores, o maior desafio da política é a renovação

Levantamento qualitativo foi realizado no dia 23 de abril, com eleitores de vários bairros do Recife

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 29/04/2018 às 6:12
Foto: Alexandre Gondim/ JC Imagem
Levantamento qualitativo foi realizado no dia 23 de abril, com eleitores de vários bairros do Recife - FOTO: Foto: Alexandre Gondim/ JC Imagem
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“O maior desafio do País é direcionado aos políticos. Eles têm que se renovar. Existe muito vício, a gente vê, sente no dia a dia. Então cabe a eles se redescobrirem, reavaliarem o que fizeram até hoje. Se quiserem continuar na vida pública, vão ter que mudar”. O desejo pelo “novo” na política, explicitado na fala do autônomo Ronilson Lemos, de 63 anos, morador do bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife, surge de maneira predominante na mais nova pesquisa qualitativa elaborada pelo Instituto Uninassau: O Brasil e a Eleição Presidencial na Visão dos Eleitores. O levantamento é publicado em parceria com o Jornal do Commercio e o Portal LeiaJá.

No levantamento, que teve por objetivo captar as impressões de eleitores de várias tendências sobre o Brasil e a eleição presidencial deste ano, integrantes de todos os grupos avaliados (segmentados por classe social – A/B, C e D) apontaram que os maiores prejuízos contabilizados pelo País são gerados pelo modo como os governantes direcionam as suas gestões, segundo eles, visando apenas o próprio benefício, sem se importar com o que, de fato, é melhor para os cidadãos.

Diferenças pontuais, porém, foram observadas na percepção do eleitorado sobre os desafios do País. Com acesso à serviços privados de saúde, educação e muitas vezes até segurança, os pesquisados das classes A e B fizeram questão de enfatizar que, independentemente da política, estão tocando suas vidas, “correndo atrás”, e que são “otimistas” em relação ao futuro.

Imersos em uma realidade completamente distinta, necessitados da presença estatal nas mais diversas áreas, os eleitores das classes C e D responsabilizam os políticos por não conseguirem sair da crise e falam em “sobrevivência” no cenário brasileiro atual. Durante a fase de entrevistas da pesquisa, um dos participantes do grupo com membros da classe C afirmou que, há poucos dias, presenciou o assassinato de um primo no bairro onde ambos moravam, lembrando que o tráfico de drogas e a violência são problemas importantes e de difícil superação sem a atuação direta do Estado tanto investindo em segurança quanto em educação.

A educação, inclusive, foi citada várias vezes como o mecanismo capaz de mudar a vida das pessoas nos mais variados aspectos. “Para os eleitores das classes C e D, a educação muda as pessoas e tem o poder de mudar a classe política. Jovens das classes D revelam o desejo de entrar na universidade pública, mas reconhecem falta de capacidade. Eleitores maduros afirmam que os filhos precisam de uma boa educação para ter uma vida melhor”, diz trecho do relatório de conclusão do coordenador do estudo, o cientista político Adriano Oliveira.

A esperança de alguns e a ânsia por novidade na política que une todos os entrevistados, contudo, esbarram na incerteza de que esse desejo possa vir a se tornar real. “Nosso futuro é incerto. Eu digo isso porque a gente tem a voz, tem a prerrogativa de colocar os políticos onde eles estão, mas está refém deles. A gente está trabalhando, mas a qualquer momento não está mais. Estamos estudando, mas depois não estamos mais. Sinto que eu posso perder minha bolsa de estudos. São milhões de pessoas colocando a sua esperança em uma única pessoa, e ela tem muitas chances de nos decepcionar”, disse a auxiliar administrativo Paloma Nascimento, 21 anos. A jovem é beneficiária do Fies, programa de financiamento estudantil, e cursa direito em uma universidade particular do Recife.

A aparente desilusão em relação ao amanhã, no entanto, não os afasta do debate político. Por diversas vezes durante o levantamento, os eleitores disseram achar fundamental a discussão a respeito dos rumos do Brasil e afirmaram que a educação é o melhor caminho para mudar a realidade da população, sobretudo a faixa mais carente dela. “Ou a gente se envolve de fato, se mobiliza como cidadão, estuda em quem a gente vai votar ou vamos voltar à estaca zero. Eu acho que falta engajamento político dos cidadãos. Muitos acham que a política é muito distante da sua realidade, um pensamento infantil que foi implantado por alguns políticos no passado para deixar as pessoas demenciadas”, argumentou a artesã Maria Cecília Vasconcelos, 35 anos.

POLÍTICA ELEITORAL

No que diz respeito à política eleitoral, os entrevistados admitiram que o País está polarizado e classificaram o fato como negativo para a democracia. Em alguns momentos, eleitores cravam que “o Brasil está dividido entre quem apoia e quem é contra o PT” e que “a divisão deve acabar, e os corruptos devem ser presos”, pois “as pessoas estão esquecendo de trabalhar por conta disso”. A conjuntura, diz o estudo, “sugere como será a vindoura eleição presidencial. De um lado, os admiradores do lulismo, de outro, os que rejeitam o lulismo. Sabendo que tal conjuntura pode vir a ser enfraquecida caso Luletoompla não seja candidato”.

É de se entender então, que, de tão ansiosos por mudança da classe política, os participantes adjetivem o presidente da República, Michel Temer, usando termos como “horrível”, “amigo de Cunha”, golpista”, corrupto” e “impopular”.

METODOLOGIA

Coordenada pelo cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto Uninassau, a pesquisa tem por objetivo identificar os sentimentos dos entrevistados em relação à política, economia e aos possíveis candidatos a presidente.

A metodologia é a qualitativa, com a realização de entrevistas com três grupos divididos por classe social. O grupo 1 com renda superior a R$ 5 mil (A/B), o 2 com renda entre R$ 2 mil e R$ 4 mil (C), e o 3 com renda de R$ 800 a R$ 1.200 (D).

O levantamento foi realizado no dia 23 de abril de 2018. Todos os participantes moram no Recife.

Confira abaixo o estudo completo:

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