O juiz federal Sergio Moro apontou a manutenção de contas secretas no exterior, com saldos milionários, como a "prova mais contundente" de corrupção contra o ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada, preso nesta quinta-feira (2) na 15ª fase da Operação Lava Jato.
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Autoridades da Suíça e do principado de Mônaco enviaram documentos às autoridades brasileiras que indicaram o valor de 10,3 milhões de euros (cerca de R$ 35 milhões) em contas de Zelada no exterior. Relatório da Receita Federal mostra que Zelada nunca declarou oficialmente ter ativos no exterior.
No despacho de prisão, Moro afirmou que há provas de que Zelada fez transferências de valores da Suíça para Mônaco em julho e agosto de 2014, após a deflagração da operação Lava Jato, que começou em março do ano passado. Para o magistrado, essas movimentações permitem concluir que o ex-diretor da Petrobras esperava proteger seus "ativos criminosos" do bloqueio da Justiça.
Segundo o juiz, há também o registro de transferências para uma conta na China e outra na Suíça, aparentemente controlada pelo consultor Raul Schmidt Felippe Júnior, sócio de Zelada em uma empresa do ramo de energia solar.
O magistrado apontou essa conduta como uma das justificativas para decretar a prisão de Zelada, sob o argumento de que ela colocou em risco a recuperação integral do dinheiro resultante dos crimes.
Zelada é suspeito de envolvimento em crimes de corrupção, fraude em licitações, desvio de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Para os investigadores, a prisão dele completa "camarilha dos quatro" que comandava os desvios na estatal: além de Zelada os ex-diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Nestor Cerveró (Internacional) e Renato Duque (Serviços).
Indicado pelo PMDB, o ele assumiu a área Internacional da Petrobras em 2008, em substituição a Nestor Cerveró, que também está preso acusado de envolvimento no esquema de corrupção na estatal.
A então presidente da empresa, Graça Foster, tirou Zelada do cargo em 2012 quando decidiu reformular as diretorias seguindo determinações da presidente Dilma Rousseff. A partir daí, peemedebistas passaram a pressioná-la para indicar outro nome da confiança do partido. Em reação, Graça Foster resolveu acumular a função com a presidência da empresa.
O juiz Moro determinou ainda o bloqueio de até R$ 20 milhões de Zelada e de R$ 7 milhões de Felippe Jr., que passou a ser suspeito de participação na lavagem de dinheiro em favor de Zelada e do ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque -por isso também foi alvo do congelamento de bens.
OUTRO LADO
Por meio de seu advogado, Zelada negou ser sócio de Felippe Jr. na TVP Solar SA. O executivo afirmou que apenas faz parte do conselho da empresa, o que foi confirmado pelo advogado do consultor, e negou possuir contas em Mônaco.
Leonardo Muniz, advogado de Felippe Jr., afirmou que seu cliente não trabalha no setor petrolífero desde 2007 e que todas as transações financeiras e atividades dele respeitam as legislações dos países onde são realizadas.
"Cabe acrescentar: o sr. Raul não intermediou nenhum pagamento ao sr. Renato Duque e não tem nem nunca teve apartamento em conjunto com o sr. Jorge Zelada", afirmou.