OPERAÇÃO EFICIÊNCIA

Sem curso superior, Eike Batista pede presídio com segurança para se entregar

Por não ter curso superior, o empresário não tem direito a ficar num presídio mais seguro; o nome de Eike foi incluído na lista vermelha da Interpol

JC Online
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Publicado em 27/01/2017 às 22:00
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Por não ter curso superior, o empresário não tem direito a ficar num presídio mais seguro; o nome de Eike foi incluído na lista vermelha da Interpol - FOTO: Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
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O empresário Eike Batista, cujo nome foi incluído na difusão vermelha da Interpol, está disposto a se entregar à Polícia Federal, contanto que não tenha que ir para uma prisão comum, na qual ele acredita que correria risco de vida. 

Por não ter curso superior, o suspeito não tem direito a ficar num presídio mais seguro. Ele, que já figurou na lista dos oito homens mais ricos do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 30 bilhões, é alvo da Operação Eficiência, desdobramento da Lava Jato no Rio. Deflagrada por ordem do juiz federal Marcelo Bretas, a apuração mira mais de US$ 100 milhões de propinas pagos ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) - preso desde novembro, em Bangu. Já que tem curso superior, Cabral encontra-se preso em um local mais seguro, em Bangu, na Zona Norte carioca. 

O único preso da Lava Jato no Rio sem diploma, Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador financeiro do ex-governador, relatou à PF que a unidade prisional na qual se encontra virou um "barril de pólvora", correndo "seríssimo risco de vida", segundo os advogados do operador. O presídio José Frederico Marques, conhecido como Bangu 10, no qual Bezerra está detido, recebeu a transferência de 600 traficantes da facção Amigos dos Amigos (ADA). Apesar disso, o juiz Marcelo Bretas, que comanda a operação, não concedeu liberdade ao acusado. 

Prisão Preventiva

A decisão que determinou a prisão preventiva do ex-bilionário Eike Batista, tomada pelo juiz Marcelo Bretas, foi assinada 11 dias antes de o empresário viajar para Nova York. Apesar disso, autoridades afirmaram que não há suspeita de que informações tenham vazado. Ele é acusado de ajudar a ocultar propina e pagar cerca de US$ 16,5 milhões ao ex-governador carioca Sérgio Cabral (PMDB). As prisões preventivas da Operação Eficiência, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, foram deferidas no dia 13, mas os mandados só foram enviàdos à PF na quarta-feira (25).

O suspeito embarcou na última terça-feira (24) e até a noite desta sexta-feira (27), ainda não havia se entregado às autoridades. Eike é considerado foragido pela Interpol e a Polícia Federal já acionou agentes americanos para localizar o empresário. A Justiça Federal e a polícia afirmam que esse tempo era suficiente para organizar a operação, que mobilizou 80 agentes.

Primeiro alvo da Operação Lava Jato, em 2017, Eike Batista é um forte candidato a delator. Em depoimento prestado à Polícia Federal, em maio de 2016, ele sinalizou que estava disposto à colaborar com os investigadores e sobre suas doações para políticos.

O empresário, ex-dono do Grupo OSX, é alvo da Operação Eficiência, desdobramento da Lava Jato, no Rio. Deflagrada nesta quinta-feira, 26, por ordem do juiz federal Marcelo Bretas, a apuração mira mais de US$ 100 milhões de propinas pagos ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) - preso desde novembro, em Bangu.

Depoimento

O trecho abaixo é da transcrição do depoimento que Eike Furkem Batista deu a dois investigadores da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, no dia 20 de maio de 2016.

"MPF: Perfeito senhor Eike. Bom, o senhor veio aqui voluntariamente, se pôs à disposição de contribuir com as investigações.

DEPOENTE: E estamos à disposição para outras coisas.

MPF: Não sei se o senhor gostaria de acrescentar algum outro dado, algum outro fato, o senhor fique à vontade.

DEPOENTE: O que os senhores quiserem saber."

Ouvido pelos procuradores da República Roberson Pozzobon e Julio Motta Noronha, Eike contou que repassou R$ 5 milhões para uma conta secreta do marqueteiro do PT João Santana - preso em fevereiro de 2016, pela Lava Jato, e solto em julho - por indicação do ex-ministro Guido Mantega. Mas negou tratar-se de propina.

A conta da offshore Golden Rock Foudantion, usada por Eike, foi a mesma que serviu para ele repassar US$ 16,5 milhões da propina - de US$ 10 milhões - de Cabral, afirma a força-tarefa, no Rio. Era parte das comissões de 5% em contratos do Estado que o ex-governador cobrava.

O depoimento de Eike, na ocasião, livrou o empresário de ser preso na Operação Arquivo X, deflagrada em setembro de 2016, que prendeu Mantega - solto no dia seguinte.

O comportamento do empresário nas investigações, em Curitiba, levam investigadores a acreditar que preso, Eike decida colaborar.

Em maio, o ex-controlador do Grupo OSX entregou documentos ao Ministério Público Federal para comprovar o que disse: um registro de agenda oficial marcada com o ministro Mantega, em Brasília, onde teria sido pedida a contribuição ao PT, o registro de voo, contratos falsos firmados com empresas de Santana e os comprovantes de transferência de uma conta sua no exterior para a conta do casal João Santana e Mônica Moura em nome da offshore Shell Bill Finance - de US$ 2,3 milhões, em 2013.

Eike procurou o MPF não como colaborador, mas sim depois de um delator da Lava Jato ter apontado propinas e fraudes na licitação das plataformas P-67 e P-70, vencidas pelo Consórcio Integra Offshore (formado pela Mendes Júnior e OSX Construção Naval) - negócios de US$ 922 milhões, assinado em 2012. O delator era Eduardo Musa, e gerente da área responsável pelo contrato, a Diretoria Internacional, até 2009, e diretor da OSX na época do fato.

O empresário negou propina, no entanto, mas a versão não convenceu o juiz federal Sérgio Moro. Em seu despacho que autorizou a deflagração da 34ª fase da Lava Jato, a Arquivo X, ele ressalta que "Eike Batista negou que o depósito de USD 2.350 000,00 tivesse relação com o contrato obtido pelo Consórcio Integra, tratando-se de doação eleitoral".

"O problema é que a transferência de recurso foi feita por meio subreptício, através de contas secretas mantidas no exterior e com simulação de contratos de prestação de serviço, meio bem mais sofisticado do que o usual mesmo para uma doação eleitoral não contabilizada", observou Moro. "Além disso, seu interlocutor teria sido o então Ministro da Fazenda, a quem não cabe solicitar doações eleitorais ao partido do governo, ainda mais doações subreptícias."

O magistrado ressaltou ainda que o repasse foi feito a Santana em 16 de abril de 2013, "ano no qual não houve eleições". "E mesmo considerando a data da solicitação, 1 de dezembro de 2012, igualmente após as eleições municipais daquele ano."

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