O governo está preocupado com a possibilidade de vazamentos seletivos das delações de 77 executivos e ex-diretores da Odebrecht. As colaborações premiadas foram homologadas nesta segunda-feira (30), pela presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, e, a partir de agora, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai decidir quem será alvo de inquéritos e quais investigações ainda precisam de mais diligências.
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O Palácio do Planalto vive momentos de tensão, às vésperas da disputa para a presidência da Câmara e do Senado, marcadas para quarta e quinta-feira, dias 1º e 2. Embora auxiliares do presidente Michel Temer tenham recebido com alívio a notícia de que Cármen Lúcia manteve o sigilo, há receio de que, enquanto as delações ainda estiverem com o Ministério Público Federal, trechos dos depoimentos possam ser divulgados "parcialmente", prejudicando o governo.
Nos bastidores do Planalto e do Congresso, o comentário é de que as delações atingem cerca de 200 políticos de vários partidos - muitos dos quais do PMDB e de outras siglas que compõem a base aliada de Temer -, além de integrantes do "núcleo duro" do Executivo.
Lava Jato
O discurso oficial no governo é o de que a Lava Jato não terá o poder de obrigar o presidente a produzir uma ampla reforma ministerial. Até agora, são esperadas apenas a nomeação do líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), para a Secretaria de Governo, no lugar de Geddel Vieira Lima, e a efetivação de Dyogo Oliveira no Ministério do Planejamento.
Mas assessores de Temer admitem que os desdobramentos das delações são imprevisíveis. Há apreensão com os efeitos da turbulência política sobre a economia. A imagem que se usa no Planalto para definir o próximo período é a de uma "travessia em mar revolto".
Na delação feita à força-tarefa da Lava Jato, em dezembro, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho citou o próprio Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco. Na lista de políticos mencionados por ele também aparecem os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia concorre à reeleição, com o aval do Planalto.
"A Lava Jato tem de cumprir o seu papel e o governo tem de governar. De preferência, bem", disse Padilha à reportagem, sem querer comentar as declarações de Melo Filho, que o apontou como "preposto" de Temer na distribuição de dinheiro para campanhas.
STF
Temer pretende indicar o novo ministro do Supremo depois de Carmen Lúcia escolher quem substituirá Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato. Teori morreu em acidente aéreo, no dia 19, em Paraty (RJ), e nesta quarta-feira receberá homenagem dos colegas na primeira sessão do Supremo após o recesso.
Em conversas reservadas, o presidente tem dito que não aceitará pressões políticas nem escolherá uma pessoa que desagrade à ministra Carmen Lúcia ou à opinião pública. Temer quer, com isso, passar a mensagem de que não interferirá nos rumos da Lava Jato.
A sucessão no Supremo foi um dos assuntos da conversa entre Temer e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso há quatro dias, em São Paulo. Filiado ao PSDB, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, está na lista dos cotados para ocupar a cadeira de Teori. Desembargadores do Superior Tribunal de Justiça (STJ), porém, defendem um integrante da corte para a vaga.
A indicação do presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho, perdeu força depois que foram divulgados artigos escritos por ele com posições consideradas machistas. Martins Filho disse que os trechos foram "descontextualizados". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.