O Brasil viverá um dia de suspense nesta quarta-feira, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for interrogado pelo juiz Sérgio Moro, responsável por investigar a corrupção na Petrobras, uma audiência que pode reconfigurar o futuro político do país.
A cidade de Curitiba será palco deste confronto. De um lado, milhares de partidários do histórico líder de esquerda que chegaram para apoiá-lo, e do outro, a multidão de seguidores do magistrado que encarna a luta contra a corrupção sistêmica que intoxica o Estado brasileiro.
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A polícia montou uma operação de grande escala para separar os grupos antagônicos em diferentes pontos da cidade e ergueu um cerco ao redor do prédio da Justiça Federal, onde apenas as partes envolvidas serão autorizadas a entrar. O resto dos processos foram suspensos.
Lula responderá aos questionamentos de Moro sobre um caso que investiga se recebeu um apartamento triplex de luxo no Guarujá das mãos da construtora OAS, afundada no escândalo de subornos na Petrobras, em troca de "vantagens indevidas", segundo a definição judicial.
"O ex-presidente Lula está pronto para prestar o seu depoimento ao juiz Sérgio Moro. Ele vai com a força da verdade", disse à AFP seu advogado de defesa, Cristiano Zanin Martins.
Apesar do consenso generalizado entre analistas de que Lula, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como o comandante da rede de subornos na Petrobras, será condenado nesta primeira instância, Martins sustenta que ainda não provaram nenhuma das acusações.
"Não há qualquer participação dele em um esquema de ilicitude que tenha ocorrido dentro da Petrobras. Não há nada que mostre isso. Ao contrário, a prova é favorável, a prova mostra a inocência. E é isso que mostra um cenário político envolvido. Por que continuar acusando o Lula se ele já demostrou a sua inocência?", acrescentou.
O ex-presidente lidera com folga as pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2018 e os estudos mais recentes mostram que a diferença a seu favor cresce, apesar de ter um amplo índice de rejeição junto ao Partido dos Trabalhadores (PT), que sofreu um grande revés nas últimas eleições municipais.
Sentença
A sentença será divulgada entre 45 e 60 dias depois e será a primeira ligada ao ex-presidente no âmbito da Operação Lava Jato, que desvendou uma fraude de mais de 2 bilhões de dólares na petroleira estatal.
De acordo com as leis brasileiras, Lula não pode se candidatar se uma eventual condenação for ratificada em segunda instância, que segundo os prazos habituais do tribunal é um processo que costuma durar um ano.
O processo, conhecido como o "apartamento do Guarujá", é uma das cinco acusações que até o momento pesam contra Lula, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e obstrução à justiça.
O ex-presidente nega todas as acusações e afirma que se trata de uma ficção criada para maquiar uma disputa política que pretende impedi-lo de voltar ao poder em 2018, quando lidera todas as pesquisas de intenção de voto.
O MPF o acusa de ter recebido 3,7 milhões de reais da OAS, incluindo o apartamento do Guarujá e se ele se beneficiou do custeamento do armazenamento de seus bens pessoais e de seu acervo presidencial entre 2011 e 2016.
Se for condenado, e a decisão ratificada em segunda instância, o homem que ganhou fama mundial por capitanear o "milagre brasileiro" há uma década não poderá entrar na corrida para as eleições de 2018.
O dia D do interrogatório foi precedido por um novo revés do ex-presidente: um juiz de Brasília ordenou a suspensão das atividades do Instituto Lula, que transmite seu legado político, por suspeitar que esta entidade poderia ter sido utilizada para cometer "vários ilícitos criminais".
A suspensão foi assinada em 5 de maio e comunicada na terça-feira, véspera da audiência.