O economista Paulo de Tarso Venceslau estava nessa quinta-feira (11), em uma padaria da Rua Aracaju, em Higienópolis, no centro de São Paulo, ao lado do professor de história da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis. Ambos dividem um passado comum na resistência à ditadura e na militância petista. Vinte anos depois de detonar o primeiro escândalo - era maio de 1997 - que envolveu Luiz Inácio Lula da Silva em uma rede de favores e fraudes, que tinha seu compadre e advogado, Roberto Teixeira, como principal acusado, Venceslau viu mais uma vez o ex-presidente dizer que não sabia de nada do que acontecia ao seu redor. "É mentira. E ela é tão grande que, agora, ele chega a dizer que não tem influência no PT. Isso diz tudo. É a prática que eu conheço."
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Venceslau militou na Ação Libertadora Nacional (ALN) e participou do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969, libertado em troca da soltura de 15 presos políticos, entre eles o ex-ministro José Dirceu (PT). Aarão Reis era da direção do MR-8, que participou da ação com a ALN. Presos e torturados, ambos se reencontraram nos anos 1980 no PT. Quem primeiro deixou a legenda foi Venceslau. "Fui ao Lula e mostrei documentos e o que aconteceu? Ele chamou o Okamotto (Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula) e me mandou conversar com o Teixeira."
Os documentos citados por Venceslau mostravam que a empresa CPEM teria sido beneficiada com contratos em administrações municipais petistas em troca de dinheiro para campanhas eleitorais. Teixeira teria apresentado a empresa a petistas e era o dono do imóvel no qual Lula morava de graça. Venceslau acabou expulso do partido e Lula inocentado por uma comissão interna do PT.
Ele e Aarão Reis assistiram ao interrogatório de Lula. "O Lula jogou tudo nas costas da Marisa. Coitada, já não está para se defender (Marisa, mulher de Lula, morreu em razão de um aneurisma em fevereiro). O Lula revelou-se Lula. Só não vê quem não quer", diz Venceslau.
Caráter
Aarão Reis, seu amigo, deixou o PT em 2005 em meio a outra crise que também teve Lula no olho do furacão: o mensalão. "O triste dessa história do Lula e do PT é que Lula se recusa a assumir responsabilidade e joga tudo nos ombros de seus camaradas. Os de caráter mais firme se recusam a delatar, mas outros começam a falar."
Aarão Reis militara ali desde 1982. "O Lula é o responsável político maior. Nada importante no PT é empreendido pelas suas costas. É sabendo disso que interlocutores conversam com os Vacarris e Paloccis. Ele tem de assumir a responsabilidade política e ética. O registro jurídico eu deixo para a polícia e para a Justiça. Lula pode alegar que não há prova e, se não houver, ser absolvido. Mas deve assumir as coisas negativas de seu governo não só as positivas."
Aarão Reis veio do Rio para encontrar Venceslau para acompanhar o amigo, que será operado nesta sexta-feira. O Instituto Lula informou que não comentaria as declarações deles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.