Com uma bomba nas mãos desde a última quarta-feira (17), quando conteúdo da delação do dono da JBS Joesley Batista veio a público, o presidente Michel Temer (PMDB) concedeu entrevista à Folha de São Paulo no Palácio da Alvorada. Na conversa, avisou que a renúncia seria o mesmo que admitir a culpa e só sairá se for tirado: "se quiserem, me derrubem".
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Em sua defesa, Michel Temer afirmou não saber do envolvimento de Joesley nas investigações da Lava Jato, em 7 de março, dia do encontro e só aceitou se reunir porque ficou 'sem graça de não atendê-lo'. Na época, o empresário já tinha o nome vinculado a três operações da Polícia Federal.
Temer disse também que não se submeteria à regra que institui para seus ministros, (afastamento para os que forem denunciados e exoneração para os que se tornarem réus da Lava Jato) por ser chefe do executivo.
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Ele ainda reforçou o que já havia dito no pronunciamento desse sábado, que a frase "Tem que manter isso" foi em referência a boa relação com Cunha.
Quando questionado se foi prevaricação ouvir relatos de crimes dentro de casa e não fazer nada, Temer fez pouco caso da conversa: "muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Confesso que não levei essa bobagem em conta".
O fato da reunião estar fora da agenda (algo ilegal perante a lei), no entanto, foi um erro até reconhecido pelo presidente, mas explicou que é um hábito adquirido.
Ao falar sobre o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), Temer o classificou como um 'coitado' e que não se sente traído por ele. "Ele é de boa índole, de muito boa índole, mas esse gesto não é aprovável".
Desde a revelação da história, o presidente não encontrou com Loures e disse manter apenas uma relação institucional com ele.
O presidente ainda respondeu sobre o acordo de delação firmada entre Joesley e a Procuradoria. Para Temer, a forma como tudo foi conduzido foi de chamar a atenção e o empresário não teve, mas sim 'produziu uma informação privilegiada' ao entregar a gravação e, n sequência, comprar US$ 1 bilhão e vender as ações da JBS em queda.
Quando o assunto foi se era ou não culpado pelo episódio, Temer disse que a culpa que teve foi ser 'ingênuo' ao receber Joesley naquele momento, a quem chamou de 'empresário grampeador'.
Aliados
Sobre as legendas que seguem na base aliada, Temer contemporizou que a saída do PSB não é de agora, mas sim 'em razão da Previdência', enquanto o PPS se afastou parcialmente, pois se de um lado houve a saída de Roberto Freire, ex-ministro da Cultura, por outro Raul Jungmann continou como ministro da Defesa. Ainda mostrou confiança na fidelidade do PSDB até o fim de seu mandato, programado para 31/12/18.
Temer ainda considerou que a crise não influenciará na decisão do TSE para o julgamento da chapa Dilma-Temer e lamentou pela decisão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em pedir o impeachment. "Tem uma certa surpresa minha. Porque eles que me deram espada de ouro, aqueles títulos fundamentais da ordem, agora se comportam dessa maneira".