Dos 21 senadores que vão compor a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES no Senado, ao menos três receberam doações do grupo J&F na eleição de 2014, incluindo o próprio presidente do colegiado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A CPI foi instalada na semana passada e tem como objetivo investigar empréstimos feitos pelo banco de fomento que beneficiaram o conglomerado do setor de carnes.
Dos cerca de R$ 2 milhões de doações que Alcolumbre recebeu oficialmente em 2014, R$ 138 mil foram oriundos de doações do grupo J&F. Além dele, os outros dois membros da CPI do BNDES que também aparecem na planilha apresentada pela JBS são os senadores Acir Gurgacz (PDT-RO) - que recebeu R$ 833 mil de um total de R$ 4,2 milhões - e Paulo Rocha (PT-PA), que recebeu R$ 233 mil da JBS de um total de R$ 3,3 milhões de doações. Os senadores não possuem até o momento inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o pedido de criação da CPI, de autoria do senador Roberto Rocha (PSB-MA), o colegiado tem como objetivo principal investigar supostas irregularidades nos empréstimos concedidos pelo BNDES no programa de globalização das companhias nacionais nos últimos 20 anos, com destaque para operações de financiamento do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS, cuja delação levou à investigação do presidente Michel Temer.
O primeiro grande empréstimo do programa de internacionalização foi de US$ 80 milhões ao frigorífico Friboi, para a compra de 85% da principal empresa de carne bovina na Argentina, a americana Swift Armour. Posteriormente, dois anos após o primeiro aporte, a holding do Banco para participação acionária, o BNDESPar, concedeu um novo empréstimo/compra de ações no valor de R$ 4,5 bilhões ao conglomerado JBS-Friboi para a compra da Swift&Co. e Pilgrim's Pride Corp nos EUA. Dessa forma, a JBS tornou-se hoje uma das mais internacionalizadas empresas nacionais", diz trecho do documento apresentado por Rocha.
Procurada, a assessoria de Alcolumbre negou que o parlamentar tenha negociado qualquer tipo de contrapartida com a JBS. "O senador nunca teve contato direto com a JBS. Em nenhum momento, direta ou indiretamente, o senador bateu na porta na JBS para pedir alguma coisa. O dinheiro em questão foi designado para a direção nacional do partido e depois repassado ao senador", afirmou.
A assessoria de imprensa do senador Paulo Rocha também nega qualquer irregularidade na doação e questiona veracidade do depoimento dos delatores. "Ele (Rocha) era presidente do PT local na época e todo dinheiro que era destinado para a campanha no Pará vinha do Diretório Nacional. Supunha-se que se o Diretório recebeu dinheiro aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a quantia era legal."
Gurgacz negou que tenha recebido doações da JBS em sua campanha. Segundo ele, o recurso foi direcionado à campanha majoritária ao governo do Estado, em 2014, e, como candidato ao Senado, ele também constou como beneficiado na prestação de contas divulgada pelo TSE. "Nunca recebi nenhum centavo da JBS", afirmou o senador.
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PGR
A assessoria de imprensa do grupo J&F destacou que os colaboradores já apresentaram informações e documentos à Procuradoria-Geral da República e continuam à disposição para cooperar com a Justiça.
Nos bastidores, a comissão para investigar o BNDES é vista como uma forma de tentar inviabilizar a CPMI da JBS, que também foi criada em maio, mas não foi instalada até hoje por não possuir indicações suficientes para compor o colegiado. Neste caso, a comissão é mista, ou seja, composta por 32 deputados e 32 senadores.
Enquanto a CPI do BNDES é mais ampla e se propõe a analisar operações desde 1997, a CPMI da JBS visa investigar eventuais irregularidades em operações realizadas pelo grupo com o BNDES e BNDESPar entre 2007 e 2016, além de tratar do acordo de delação premiada de Joesley e Wesley Batista.
Para alguns congressistas, como a CPI do BNDES tem o escopo mais amplo e é formada apenas por senadores, seria mais fácil barrar requerimentos como a convocação dos irmãos Batista.