O senador Humberto Costa (PT) rebateu as declarações do ministro da Saúde, Ricardo Barros, sobre a questão da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). Ricardo Barros, que pretende implantar uma fábrica no Paraná para fabricar o fator recombinante VIII, produto de maior valor agregado, afirmou nesta terça-feira (8) que não iria entrar na questão do "bairrismo", diante da defesa da bancada pernambucana contra o esvaziamento da fábrica em Goiana, na Mata Norte de Pernambuco.
"Quem está fazendo politica com isso é o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Ele está levando para o Paraná para fazer politicagem. Como não há como fazer uma defesa que seja capaz de convencer as pessoas dos equívocos que estão sendo feitos do ponto de vista técnico e econômico-financeiro, ele vai jogar para o campo político e tentar culpar o governo anterior pela situação que vive a Hemobrás, quando na verdade o grande culpado é o governo federal", disse o senador em entrevista à Rádio Jornal nesta quinta-feira (10).
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Em entrevista à Rádio Jornal na última terça (8), o ministro da Saúde afirmou que a fábrica de Goiana é um "esqueleto" e que a produção está abaixo do esperado. "Espero que Pernambuco aceite terminar esse esqueleto que está aí, fazer funcionar, trazer receita para o Estado, arrecadar impostos e dar trabalho, função, utilidade aos funcionários que estão aí hoje concursados para trabalharem em estruturas que não estão funcionando até hoje.
"Falar de um esqueleto de uma fábrica, isso é uma afirmação absurda. 70% da obra da Hemobrás já está concluida. E 70% da tecnologia que deve ser incorporada, já foi feita essa incorporação, tanto para os hemoderivados tanto para o fato VIII recombinante. Portanto, é muito mais barato concluir essa obra do que construir uma nova fábrica onde quer que seja", rebateu Humberto.
Barros disse ainda que está sendo gasto R$ 1 bilhão por ano com folha de pagamento "numa fábrica que não tem nem um prédio pronto, não funciona nada. É preciso respeitar o dinheiro público", disse. Humberto afirmou que esses dados seriam "Uma falta com a verdade de maneira deslavada". "Por ano são assegurados R$ 200 milhões de para serem integralizados para empresa e isso cobre todas as despesas, inclusive pessoal, custeio, armazenamento de plasma. É uma demonstração que ele talvez não tenha um conhecimento pleno".
A fábrica de hemoderivados instalada em Goiana, na Mata Norte, planejada para ser uma âncora no pólo farmacoquímico, corre o risco de perder força de produção caso parte das atividades seja realizada no Paraná, com a entrada de parceiros privados propostos pelo Ministério da Saúde. Ricardo Barros disse que teria a "solução" para concluir a construção da fábrica em Goiana, através de uma Parceria Público Privada (PPP) a empresa suíça Octapharma e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que propõem investir US$ 200 milhões para construir uma nova fábrica no Paraná, com o objetivo de produzir o fator VIII recombinante. Já Pernambuco receberia US$ 250 milhões para finalizar a planta de plasmáticos
Humberto lembrou que a Hemobrás é uma empesa estatal. "É uma empresa do governo federal, não porque Lula quisesse ou eu quisesse que fosse pública, mas é porque a lei do sangue no brasil determina que o sangue é o monopólio da união, ele não pode ser gerido por empresas privadas. O governo federal já integralizou mais de R$ 1 bilhão ao longo deses 10 anos".
Construção
Entre os entraves para alcançar a autossuficiência, está o atraso de obras da fábrica em Goiana. O cronograma foi interrompido várias vezes por indícios de irregularidades, como superfaturamento de contratos, além da falta de repasses da União. Em 2015, a Operação Pulso, da Polícia Federal, investigou fraudes em licitações e contratos de logística de plasma e hemoderivados, além da própria construção da fábrica.
O senador, que foi ministro da saúde no governo Lula, justificou a demora na conclusão da fábrica. "Ela foi iniciada em 2009 e a previsão era de 10 anos para construção. Isso não é uma coisa simples, construir uma fábrica de hemoderivados. Inclusive o uso de uma tecnologia que muda muito rapidamente. Então, várias vezes foi necessário haver alteração do projeto original, porque a tecnologia ia mudando e a gente sabe muito bem como as coisas acontecem no Brasil. Ele citou também a necessidade de contrapartida do governo estadual. "O estado obviamente não teve condições de fazê-lo, fez algumas coisas na parte da infraestrutura e isso também representou contribuição para que houvesse demora na questão da finalização dessa fábrica", contou.