O ex-ministro da Fazenda e Chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, enviou nesta terça-feira (26) uma carta ao PT onde pede a desfiliação do partido. No documento, Palocci afirma que não pode permanecer no partido no qual "quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete". A carta é endereçada à presidente do partido, a senadora Gleisi Hoffmann.
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O desgaste entre Palocci e o PT teve início com a negociação de um acordo de delação premiada do ex-ministro no âmbito da Operação Lava Jato. Em depoimento realizado neste mês, no dia 6 de setemebro, Palocci revelou que a Odebrecht realizou um pagamento de R$ 300 milhões para os esquemas do PT, além da existência de um "pacto de sangue" entre o ex-presidente Lula e a empreiteira.
O Diretório Nacional do PT já havia anunciado uma suspensão de 60 dias de Palocci das atividades partidárias. Já o diretório do partido em Ribeirão Preto já havia dado início a um processo para a expulsão do ex-ministro. "Ao mentir, sem apresentar provas e seguindo um roteiro pré-estabelecido em seu depoimento na 13a. Vara da Justiça Federal, em Curitiba, no último dia 6 de setembro, Palocci colocou-se deliberadamente a serviço da perseguição político-eleitoral que é movida contra a liderança popular de Lula e o PT. Desta forma, rompeu seu vínculo com o partido e descomprometeu-se com a sua militância", disse a resolução do PT.
Críticas ao PT e à Lula
Ainda em sua carta, Palocci reforça todas as acusações feitas durante o depoimento e realiza uma série de críticas ao partido. "Somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade? Chegou a hora da verdade para nós. De minha parte, já virei essa página", declarou.
Palocci também realizou ataques contra Lula. "Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do homem mais honesto do país enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?", reagiu.
Palocci afirma ter presenciado "o desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história". "Com o pleno emprego conquistado, com a aprovação do governo a níveis recordes, com o advento da riqueza (e da maldição) do pré-sal, com a Copa do Mundo, com as Olimpíadas, 'o cara' nas palavras de Barack Obama, dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem critica, do "tudo pode", do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos", declarou.
Palocci escreveu que "sabia o quanto seria difícil passar por tantos desafios políticos sem qualquer desvio ético".
"Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades", admite. "Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo."
Confira a íntegra da Carta escrita Palocci: