O governo avalia mudar o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atualmente presidido por Paulo Rabello de Castro, como uma forma de tentar agradar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Às vésperas da votação da segunda denúncia contra Michel Temer na Casa, por obstrução da Justiça e organização criminosa, Maia vem demonstrando mal-estar com o Palácio do Planalto e busca se descolar do governo, com foco na disputa eleitoral de 2018.
Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara tem usado o discurso de que é preciso uma nova agenda para o País e, com isso, almeja maior protagonismo na condução das decisões econômicas. Esse é, de acordo com aliados do deputado, um dos motivos dos recentes atritos com o Planalto, que tiveram seu ápice no fim de semana, após a divulgação de vídeos da delação do operador financeiro Lúcio Funaro no site da Câmara. O episódio levou a um bate-boca público entre Maia e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós.
Amigo de Temer, Rabello de Castro assumiu o BNDES em junho, após a saída de Maria Silvia Bastos Marques. À época, Maia tentou emplacar Luciano Snel, da Icatu Seguros, e ficou contrariado por não ter sido consultado sobre a escolha. Segundo auxiliares de Temer, a mudança no BNDES pode ser feita após a votação da denúncia, prevista para o fim deste mês no plenário da Câmara. Caso não haja acordo sobre o nome, a troca deve ser feita no início de 2018.
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O presidente da Câmara nega que esteja pressionando o governo a trocar o presidente do BNDES. "Se o Palácio quiser trocar, que troque. Não queira colocar na minha conta", afirmou Maia ao Estadão/Broadcast. "Se não fui consultado na primeira vez, não é agora que vou ser consultado", disse. Em relação aos atritos com o Planalto, ele afirmou ontem que "esse tema está superado".
A assessoria do banco informou que não comenta o assunto. Oficialmente, o Planalto afirmou que não houve nenhuma negociação para a troca do presidente do BNDES. Em conversas reservadas, Rabello de Castro diz saber que não é unanimidade na equipe econômica e no Congresso, mas tem respaldo de funcionários da instituição. Aliados de Temer lembram, no entanto, que Rabello de Castro, filiado ao PSC, quer ser candidato em 2018 à Presidência da República.
De qualquer forma, interlocutores de Temer no Congresso afirmam que a ordem do governo é resolver todas as pendências de Maia a toque de caixa, principalmente em meio à tramitação da segunda denúncia. Nas palavras de um influente parlamentar ligado ao Palácio do Planalto, os pedidos de Maia devem ser atendidos.
Impasses. Na semana passada, Maia também se incomodou com a manobra do governo para não votar a Medida Provisória 784 que, entre outros pontos, autoriza o Banco Central a firmar leniência dos bancos. Líderes orientaram a base a não dar presença na sessão em que a matéria seria votada no plenário da Câmara. O objetivo era deixar caminho aberto para acelerar a tramitação da segunda acusação contra Temer na CCJ.
Críticas
Maia fez duras críticas ao governo e chegou a dizer que não aceitaria mais MPs. Na estratégia para acalmá-lo e atender a suas demandas, o Planalto deu aval para a substituição da MP por um projeto de lei.
Um dos principais patrocinadores do acordo de recuperação fiscal do Rio, Maia também voltou a pressionar o Planalto para fazer deslanchar o empréstimo ao governo fluminense e pôr os salários do funcionalismo em dia. Passado um mês e meio da assinatura do plano - concluído quando Maia ocupava a Presidência da República, durante viagem de Temer à China -, o crédito ainda não foi liberado a seu Estado.
Para piorar, o conselho de supervisão criado para acompanhar a execução do plano está sendo mais duro do que o próprio Tesouro. O clima tenso com Maia fez com que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, participasse de reunião ontem com os integrantes do conselho. (Colaboraram Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.