A ex-guerrilha Farc anunciou nesta quinta-feira (8) sua retirada da disputa presidencial na Colômbia pelos problemas de saúde de seu líder e candidato, Rodrigo Londoño (Timochenko), internado em um hospital em Bogotá.
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"A cirurgia feita no dia de ontem (...) nos levou a declinar nossa aspiração presidencial", afirmou o ex-comandante rebelde e candidato ao Senado Iván Márquez, em coletiva de imprensa.
Timochenko, de 59 anos e a quem as pesquisas não davam nenhuma chance de chegar à Presidência, fez na quarta-feira uma complexa cirurgia de uma ponte de safena, da qual, segundo os médicos, se recupera de maneira satisfatória, após sofrer um infarto em 1º de março.
Márquez afirmou que a Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc), o partido surgido do acordo de paz assinado no final de 2016, continuará na disputa legislativa de domingo e não descartou apoiar algum dos aspirantes presidenciais nas eleições de 27 de maio.
Apoio
"O não participar da disputa presidencial de maneira direta e com candidato não quer dizer que não assumamos também uma voz frente aos demais candidatos", sustentou.
O ex-negociador dos rebeldes comunistas não deu pistas sobre quem poderiam apoiar e assegurou que não iniciou conversas com nenhum partido.
Márquez reiterou o chamado da Farc a um "governo de transição" que garanta a implementação do acordo de paz.
Os analistas concordam que o apoio da Farc a outro candidato pode ser uma espécie de "abraço de urso" devido à imagem ruim que o partido tem na visão dos colombianos.
O presidente Juan Manuel Santos, que havia considerado prematura a candidatura de Timochenko, reagiu ao anúncio: "é compreensível, entre outras coisas, porque uma operação de coração aberto - e me alegra muito que tenha ido bem - é uma grande coisa", declarou.
Para o especialista no conflito armado colombiano Camilo Echandía, foi "uma boa decisão" retirar a candidatura presidencial.
"É um acerto político porque as pesquisas mostravam uma grande derrota", disse à AFP este professor da Universidade Externado da Colômbia. As pesquisas registravam um apoio de 1% a Londoño.
Timochenko, o último comandante daquela que foi a guerrilha mais poderosa da América Latina, suspendeu em 9 de fevereiro os eventos públicos de campanha após vários protestos e tentativas de agressão em diversos ponto do país.
Sua saúde estava abalada desde 2015, quando ficou à beira da morte após um infarto sofrido em Havana, cidade que foi sede por quatro anos das negociações de paz.
Londoño voltou a ter problemas em julho de 2017, quando sofreu um "leve" AVC que dificultou sua fala temporariamente.
O ex-comandante guerrilheiro, que sobreviveu a uma intensa campanha militar que tentou, sem sucesso, acabar com a guerrilha das Farc no início da década, recebeu tratamento por vários meses em Havana, antes de anunciar a candidatura no fim do ano passado.
Os médicos descobriram esta semana "uma doença pulmonar crônica" e uma "obstrução cerebral da artéria interna direita".
"Sua recuperação vai levar várias semanas", disse o candidato rebelde ao Senado Carlos Antonio Lozada.
A Colômbia celebrará no próximo domingo eleições para o Senado e a Câmara. O acordo de paz garante ao menos 10 cadeiras para os rebeldes em um Congresso de 280 parlamentares, mas os candidatos devem participar da disputa.
Em maio, os colombianos voltarão à urnas para escolher o sucessor do presidente Juan Manuel Santos, que deixará o poder em agosto após dois mandatos de quatro anos.