O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, oficializou nesta terça-feira (3) sua filiação ao MDB. Ele entra no partido com o objetivo de tentar viabilizar uma candidatura à Presidência pela sigla, mas terá um importante adversário interno: o presidente Michel Temer, que já declarou publicamente seu desejo de tentar reeleição para o cargo nas eleições de outubro deste ano.
Meirelles negociou sua filiação ao MDB diretamente com Temer, que abonou a ficha de filiação de Meirelles nesta terça-feira junto com o presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR). Ele decidiu mudar de legenda após não conseguir apoio para uma candidatura ao Palácio do Planalto de seu antigo partido, o PSD, que deve apoiar o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, presidenciável pelo PSDB.
Em discurso, Jucá ressaltou o trabalho de Meirelles à frente da Fazenda nos últimos dois anos. Disse que graças à "competência" do ministro e o "comando político" de Temer, o governo conseguiu conduzir o País da melhor forma possível e fazer coisas "inimagináveis", que garantiram a recuperação da economia brasileira, mesmo com "tormentas, ataques e especulações".
"Meirelles se coloca à disposição do partido para somar esforços e fazer com que tenhamos condições de ganhar as eleições. Temos muito em jogo nessas eleições de 2018 e é por isso que o MDB tem que ter candidatura. Temos que defender um legado, temos que buscar um caminho que faça com que o que foi alcançado até agora não se perca", afirmou Jucá, que é líder do governo no Senado.
No ato de filiação, o ministro optou por não anunciar ainda oficialmente sua saída do cargo, embora o próprio Temer já tenha confirmado ao Broadcast Político há uma semana que Meirelles deixará o governo nesta semana. Como mostrou ontem o Análise Política+, novo serviço do Broadcast Político, o ministro só pretende oficializar a saída da Fazenda nesta quinta-feira, 5, a dois dias do fim do prazo de desincompatibilização.
Meirelles se filiou ao MDB mesmo sem a certeza de que será o candidato da legenda ao Planalto. O partido quer o ministro como um "plano B", para caso Temer desista de disputar reeleição. Se o presidente concorrer, a legenda defende que Meirelles seja candidato a vice-presidente, formando uma chapa pura emedebista, ou seja, formada por candidatos a presidente e vice da mesma sigla.
Enquanto Temer não se decide - ele tem até 15 de agosto para tomar uma decisão oficial -, o MDB quer usar o ministro como um "escudo" político para o presidente. Para isso, a legenda e o próprio Temer fazem questão de investir no discurso de que o ministro da Fazenda poderá, sim, ser o cabeça de chapa. Com isso, tentam evitar que Temer seja alvo único de opositores na vitrine do jogo político.
Leia Também
Jingle
Na cerimônia, o MDB fez questão de reforçar a união entre Temer e Meirelles. "M de Michel, M de Meirelles, M de MDB", diz o refrão do jingle preparado pelo partido e divulgado nesta terça-feira. Já o slogan, estampado em um grande banner instalado no local da filiação, traz a frase "Nossa União nos Fortalece", acompanhada de uma foto de Meirelles e de Temer.
Em todo o processo de negociação, Meirelles foi atropelado pelo MDB, que antecipou o anúncio da filiação dele ao partido e a renúncia do ministro do comando da economia. O ministro queria conduzir o processo, mas acabou refém de Temer e de caciques emedebistas, que, em uma jogada calculada, tornaram praticamente impossível um recuo do ministro da decisão de deixar o governo.