Marco Antônio de Oliveira Maciel completa 50 anos de vida político-partidária em 2016, ano que será marcado na história brasileira pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). As cinco décadas de dedicação à vida pública são celebradas intimamente por familiares e amigos do pernambucano e, em agosto, um documentário produzido pela TV Câmara, com entrevistas captadas no Recife, São Paulo e Brasília, irá ao ar para reforçar a data.
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Fora a exibição do documentário, não haverá grandes festividades. Para isso, contam a conhecida discrição da família de Maciel e o estado de saúde do ex-senador. Acometido do mal de Alzheimer, ele tem evitado aparições públicas e está recluso a uma zelosa rede de cuidados em Brasília. À frente desse grupo está Anna Maria Ferreira Maciel. Em 2017, eles completarão 50 anos de casamento. “A vida inteira foi assim. Ele nunca me exigiu nada. Fiz e faço tudo por livre e espontânea decisão”, conta.
Eleito deputado estadual em 1966 e com passagem por quase todos os cargos públicos que um político pode almejar – foi governador, senador, deputado federal, ministro e vice-presidente da República – Maciel certamente teria muito a falar sobre o que vem se passando na política nacional, mas o Alzheimer colocou as reflexões do pernambucano em um cofre inacessível até mesmo para quem convive com ele diariamente. “Ele está bem, mas é profundamente calado. Às vezes, chamo a atenção dele para algo na TV, mas ele não dá a menor resposta”, revela Anna Maria.
Maciel deixou a vida pública em 2010, após perder a eleição para o Senado. “Ele operou uma reclusão e foi para Brasília. A gente tentou ver se ele se interessava (pela política). Tinha uma fortaleza interior tão grande, sempre teve uma resiliência fantástica, mas estava muito abatido”, revela Gustavo Krause, afilhado político de Maciel, ex-governador e ex-prefeito do Recife.
Assessor de Maciel por mais de 30 anos, Guilherme Codeceira acompanhava o ex-senador diariamente em uma parceria profissional que começou no início da década de 1980. Um era governador e o outro um estudante universitário. Para ele, o veredicto das urnas em 2010 pavimentou o caminho de Maciel nos anos seguintes. “Ele nunca comentou nada, mas acho que isso mexeu com ele, foi o grande trauma. Não diria pelo fato de deixar de ser senador, porque não tinha vaidade e apego ao cargo. Acho que ele sentiu ingratidão por parte do eleitorado porque fazia da política sua ação missionária e dedicou a vida ao Brasil e a Pernambuco”, opina.
Houve um movimento de amigos e assessores para que Marco Maciel não se deixasse abater após as eleições. As tentativas foram em vão. “A gente tentava marcar um café da manhã e ele desistia”, revela Codeceira, que diz ter uma relação de “quase filho” pelos anos de convivência com o ex-senador.
Nas palavras de Gustavo Krause, há uma rede de “afeto ampliado” em torno de Maciel, que congrega família, amigos e ex-funcionários. Nem todos, no entanto, visitam o ex-senador porque preferem manter na lembrança a imagem do ativo articulador político. “Entendo a consternação de alguns amigos”, fala Anna Maria, que faz a ponte com todos aqueles interessados em receber notícias do pernambucano.
O afastamento de Maciel da vida pública não significa esquecimento. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem o pernambucano foi vice, recentemente lançou dois livros de memórias e fez referências elogiosas, classificando o aliado como um vice “discreto” e “fiel”.
Em um período turbulento como o atual, com denúncias de corrupção pipocando quase diariamente, também há quem destaque o vazio que Maciel deixou no cenário político. “Faz uma falta enorme. Considero ele uma referência de probidade e seriedade. Uma vez quiseram vender um bilhete de loteria a Maciel e ele disse que não poderia comprar porque um homem público não poderia ter nada além de seu salário”, conta o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, que em 1986 disputou o governo estadual contra Miguel Arraes (na época no PMDB) com o apoio de Marco Maciel.