O juiz aposentado Adeíldo Nunes, que atuou por 15 anos na Vara de Execuções Penais do Recife, acredita que a ação do crime organizado, como possivelmente ocorreu na Avenida Recife, na madrugada desta terça-feira (21/02), é algo esperado em qualquer lugar do País. “Esses grupos vêm cada vez mais se organizando e não há uma ação de governo”, diz. Para ele, cabe ao governo federal chamar para si o comando de uma política articulada de inteligência.
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“Tem que ser uma investigação nacional. O crime está cada vez mais forte. Deveria ser uma tarefa da União, organizada em Brasília, com a participação dos Estados. Ninguém tem informação concreta para saber quem é o crime organizado no Brasil, nem como se formou. Também não é novidade rebelião em presídio, matando 50. O crime organizado é organizado mesmo. O Estado é desorganizado. Não tem planejamento a médio e longo prazos”, avalia. Para o juiz, enquanto as organizações criminosas planejam bem suas ações, os governos continuam inoperantes, “com a boca aberta esperando a morte chegar”.
Criminalidade não se resolve só com repressão
Para Nunes, há uma omissão grande dos Estados, da União e dos municípios. “Ao lado da segurança pública é essencial um plano nacional do sistema penitenciário, para dotar as prisões de escolas. Vejo muita irresponsabilidade do Estado com o sistema penitenciário. Queremos resolver tudo com prisão, quando 70% a 80% dos que deixam as unidades voltam a cometer crimes. Quando saem das penitenciárias também não têm escola, trabalho, saúde nem moradia".O juiz reconhece que o Pacto pela Vida, lançado no governo Eduardo Campos (PSB), era um programa para a redução da criminalidade. “Em determinado momento foi bom. O grande problema é que não se resolve a criminalidade só com repressão. Não adianta o Pacto prender gente e as pessoas saírem da prisão começando tudo de novo. O Pacto está superado”, comentou.