Chega à tela do Cinema São Luiz, na noite desta segunda (27/03), o documentário sobre o único procurador da República do Brasil que morreu assassinado em razão do seu trabalho contra a corrupção e o desvio de dinheiro público. Pedro Jorge de Melo e Silva, que denunciou o milionário Escândalo da Mandioca nos anos finais da ditadura – uma fraude contra o Banco do Brasil no município de Floresta, Sertão de Pernambuco –, foi morto a mando dos envolvidos no crime financeiro. O objetivo do trabalho, produzido pela equipe de comunicação da Procuradoria Regional da República da 5ª Região, no Recife, em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco, é o resgate de uma história emblemática que poderia ficar esquecida.
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Trinta e cinco anos depois do ocorrido, o meia metragem que vai reforçar o acervo documental do Ministério Público Federal e poderá funcionar também como material didático para alunos de direito, tem ainda um significado especial. “Faz uma confissão, uma espécie de mea-culpa da instituição. O assassinato de Pedro Jorge deve-se aos mandantes e executores, mas o Ministério Público não deu ao procurador, na época, o apoio que deveria. Ele perdeu a chefia e foi afastado do caso um dia antes de morrer. Com certeza, a falta de apoio desempoderou o procurador”, comenta o chefe da Procuradoria Regional da República, no Recife, Marcelo Alves. Segundo ele, o MPF aprendeu a lição. “Hoje, um procurador com caso de relevância tem o apoio da Procuradoria-Geral e dos colegas. Atuamos em força-tarefa, a segurança é fornecida”, comenta.
Alves considera Pedro Jorge um mártir do Ministério Público. “Nas condições difíceis, na ditadura, denunciou pessoas envolvidas com o regime militar. É um exemplo que nos toca bastante”. A jornalista Ana Cláudia Dolores e a publicitária Cláudia Holder, que dirigiram a produção, destacam que não há uma pretensão em reabrir o caso, mas só recontar os fatos conhecidos na época pela opinião pública. Sem orçamento especial, elas reuniram depoimentos de familiares, amigos e de pessoas que atuaram no caso. Revelam um homem simples, que tinha estudado para ser monge beneditino e se tornado um procurador discreto, humilde
Em Pedro Jorge: Uma Vida Pela Justiça, é possível rever cenas e manchetes do noticiário local e nacional e descobrir que o procurador poupou a família das ameaças. A viúva Maria das Graças Viegas revela que ele nunca mencionou as pressões que recebia. Só havia confidenciado aos amigos e conselheiros do Mosteiro de São Bento.
O advogado Gilberto Marques, que atuou como assistente de acusação no julgamento dos matadores do procurador, entre eles o Major Ferreira, lembra que a ação dos criminosos continuou mesmo depois do assassinato. Ele sofreu um atentado e teve a casa invadida. Em vez do silêncio, permitiu que os fatos fossem divulgados pelos jornais. Acredita que a grande mobilização social em torno do caso e o apoio da mídia ajudaram para que os envolvidos fossem condenados. A Advocacia Geral da União ainda luta para devolver aos cofres públicos os mais de R$ 33 milhões (valores atuais) desviados do Banco do Brasil de Floresta. No ano passado recuperou mais de R$ 706 mil referentes a processos acompanhados no Recife e em Serra Talhada.
Cerca de 300 ingressos estarão à disposição do público para a sessão única. A retirada poderá ser feita às 18h30 da segunda-feira, no São Luiz, uma hora antes da exibição.
Para a filha do procurador, ele ficou mais vulnerável por falta de apoio do Ministério Público
A filha mais velha do procurador Pedro Jorge tinha 4 anos quando ele morreu. Hoje, aos 39, é uma advogada especialista em direitos humanos. As recordações do pai se confundem com a memória coletiva. Não tem dúvida da enorme injustiça sofrida por ele em 1982. Na entrevista, comenta a falta de apoio do Ministério Público na época, que deixou o pai dela mais vulnerável à ação dos criminosos.
JC – Como você vê a iniciativa da Procuradoria Regional da República, no Recife, de transformar em documentário a história do seu pai?
ROBERTA VIEGAS – É sempre um momento de sentimentos contraditórios e complexos para mim e para minha família. Por um lado, é muito difícil reviver tudo, porque, afinal de contas, a gente tenta levar uma vida normal e leva. (A lembrança) traz de volta uma marca muito forte. Nesse caso específico, tem um componente muito especial, que é o registro histórico consolidado. Eu não vi o filme ainda, mas confio nas meninas e acredito que é um olhar com muito afeto e respeito. Isso já deixa a gente bem feliz. Essa história que é pública pode permanecer, não como um exemplo, não cabe como exemplo, mas como inspiração de uma verdade. Meu pai viveu a verdade dele. Se puder inspirar alguém, ótimo.
JC – Você considera que foi feita justiça no caso do seu pai?
ROBERTA – Justiça em si é algo complexo demais, mesmo nas coisas mais simples. Numa situação dessa nunca haverá justiça. Afetou a vida de todo o mundo. Algumas pessoas foram punidas na medida do possível, mas as consequências do ato para a minha família e algumas instituições não há nada que pague isso.
JC – Você era a filha mais velha. Tem alguma recordação dos anos seguintes?
ROBERTA – Eu tinha 4 anos. A minha memória privada é completamente contaminada pela memória pública. Eu tenho muito pouca memória pura, privada. A coisa mais forte que eu carrego dele é a verdade, o que não faz dele um santo, um super-homem, mas faz dele um homem que cumpriu o que queria e veio para cumprir. Não tem um elemento espiritual nisso, mas de caráter e integridade mesmo.
JC – Você recorda algumas medidas tomadas para proteger a família. Por quanto tempo ficaram temerosas de sofrer alguma retaliação?
ROBERTA – Minha mãe nunca perseguiu nada nem ninguém. Ela nunca alimentou nenhum laço com o outro lado. Não havia nenhuma alimentação da nossa parte, nenhum vínculo de raiva, de perigo, nada. As pessoas fizeram o maior mal que podiam ter feito para a gente, que foi tirar a vida do meu pai. Tive medo uma vez, em 1995, quando prenderam o major Ferreira. Não era sensação de perigo real. Como a gente não alimentava isso, a história estava esquecida.
JC – Você é advogada. De alguma forma a linha de atuação do seu pai lhe influenciou?
ROBERTA – Eu não sei separar as influências dele nas áreas de minha vida. Se me influenciou mais na minha vida pessoal, ou na profissão, na minha vida familiar, com meus filhos... Eu , Marisa (a irmã) e a minha mãe vivemos esse conjunto da ausência e da presença dele em tudo. A influência mais forte na minha vida profissional é procurar viver a minha verdade também.
JC – Tudo o que motivou a morte do seu pai foi a fraude que ele denunciou. Hoje, 35 anos depois, a gente continua convivendo com escândalos de corrupção, desvio de dinheiro público. Que análise você faz desse fato na sociedade?
ROBERTA – Eu acho que os momentos são bastante diferentes. O momento político é outro, a maturidade das instituições é outra, a maturidade das população também é diferente, principalmente. O meu pai não tinha apoio institucional de ninguém. A parte política era muito diferente. Não há paralelo entre o que se vive hoje e o que ele viveu. Meu pai não tinha nenhum apoio institucional, ele foi afastado do caso. Não tinha uma associação de classe que dissesse: ‘nós vamos ficar com você’. Não era movido por interesse político. Não era uma luta por uma causa. Ele estava fazendo o trabalho dele, dando andamento a um processo contra corrupção e foi afastado por isso.
JC – Esse abandono institucional que seu pai sofreu dói?
ROBERTA – Incomoda a comparação com o momento atual. A morte dele provocou mudanças institucionais no Ministério Público. Foi a partir daquele momento que os procuradores entenderam que sozinhos não poderiam trabalhar, os que queriam trabalhar. Entenderam que só podiam trabalhar se estivessem unidos. O outro lado era muito forte. Meu pai foi assassinado pelo Ministério Público. A instituição que ele estava defendendo, como fiscal da lei, o afastou do processo. No dia em que morreu, já sabia que estava afastado do caso e tinha preparado sua defesa, explicando que cumpria seu dever institucional.
JC – O que de mais importante das características do seu pai deve prevalecer em profissionais dessa área?
ROBERTA - A humildade é uma coisa que todo o mundo deveria ter, imparcialidade, respeito e respeito ao bem público.
A crítica é quanto à legitimidade dos parlamentares. Falta de preocupação com déficit democrático, da subrepresentação de mulheres, negros, indígenas, da classe trabalhadora. “É unicamente para que os que estão no poder lá continuem. É reformar para não mudar. Para que, nas eleições de 2018, o mesmo grupo se perpetue”, explica, numa das matérias, José Moroni, da gestão do Inesc. “Estão pegando propostas como financiamento público, lista fechada, coisas que defendemos, com um objetivo totalmente diferente da sociedade civil.”