Do mesmo jeito que foi aprovado sem nenhum voto contrário, o aumento do auxílio-alimentação foi revogado, nessa segunda-feira (8), na Câmara dos Vereadores do Recife sem nenhuma discussão. A sessão foi brevíssima, 43 minutos, e a única referência à verba indenizatória foi no momento em que o vereador Fred Ferreira (PSC) leu a resolução com o recuo. Apesar da repercussão negativa diante da opinião pública, nenhum político falou sobre o tema. Insegurança no Recife, voto de aplauso e agradecimentos ao prefeito Geraldo Julio (PSB) foram alguns dos assuntos da sessão, mas dos penduricalhos legislativos ninguém quis falar. Nesta terça-feira (9), ao meio-dia, haverá um protesto na Casa Legislativa. Os manifestantes vão levar o “kit lanche” para entregar aos vereadores.
As refeições serão compradas com o mesmo valor a cada vereador tem direito por mês e buscam conscientizar sobre o excesso de despesas do Legislativo. Os vereadores haviam aprovado o aumento do auxílio-alimentação para R$ 4.595, mas voltaram atrás no último dia 5, após a forte repercussão negativa da medida. A verba voltou para os R$ 3.095. Segundo a publicitária Isabel Albuquerque, além da entrega das quentinhas, os manifestantes farão uma blitz nos 39 gabinetes dos políticos, a partir das 9h30. As 300 quentinhas serão distribuídas para pessoas em situação de rua.
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O objetivo do ato, organizado pelo movimento Meu Recife, pelo Coletivo Nabuco e o Livres e outras entidades da sociedade civil, é pressionar pela revogação do auxílio.
Para a historiadora Karla Falcão, liderança do Livres no Recife, alerta para o valor do duodécimo repassado para a Câmara (4,5%) pela Prefeitura. Este ano, o orçamento é estimado em R$ 156 milhões. “É importante lembrar que a Prefeitura não produz riqueza. Tudo que ela possui é fruto do trabalho de cada cidadão pagador de impostos. Dar esse dinheiro de mão beijada para parlamentares sem nenhuma contestação é imoral”, disse.
VOTAÇÃO NOMINAL
Questionado sobre a pressão popular, o vereador Marco Aurélio Medeiros (PRTB) afirma que protesto faz parte da democracia e que é “ruim quando a gente vive num país em que não há liberdade para se expressar”. Sobre o projeto de lei que tramita na Casa para extinguir o auxílio-paletó, proposto pelo vereador Jayme Asfora (PMDB), o vereador justifica que o assunto ainda não chegou à mesa. “Quando chegar, daremos nossa posição”, resumiu. O texto foi apresentado desde setembro de 2016, mas está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Quanto à decisão de implantar votações nominais – tentativa de dar mais transparência ao processo – Marco Aurélio afirmou que a experiência em torno da votação do auxílio-alimentação resultou na mudança de postura, mesmo quando o regimento interno da Casa não obrigue que a votação seja nominal.
“Mesmo que o regimento diga que não precisa ser nominal, doravante será para que as pessoas tenham menos dor de barriga e se ausentem menos da Casa”, alfinetou o vereador.