Até as graves chuvas e enchentes ocorridas em Pernambuco ao longo do final de semana viraram motivo de embate entre deputados do governo e da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), nesta segunda-feira (29). O clima ficou tenso e um deputado chegou a acusar o outro de ter "lágrimas de jacaré". Desde o início do ano, os bate-bocas entre governo e oposição tem se tornado praxe na Casa.
O motivo do desentendimento foi o discurso do líder da oposição, Silvio Costa Filho (PRB), questionando a responsabilidade do Estado sobre as quatro barragens que não ficaram prontas na Mata Sul e que poderiam ter minimizado os efeitos das chuvas na região. Apesar de afirmar que a oposição estava disposta a votar qualquer projeto emergencial enviado pelo Executivo, Silvio cobrou que um representante do governo fosse à Alepe explicar as ações que não foram concluídas na Operação Reconstrução, projetada após as enchentes de 2010.
Antônio Moraes (PSDB) disse que Silvio queria culpar alguém pelo que ocorreu e disse que os governos do PT quebraram o Brasil. Cleiton Collins (PP) se disse admirado pela necessidade de fazer crítica a qualquer aspecto e "eleitorizar o debate". "Quando chove, é porque chove", afirmou o pepista.
Da oposição, a deputada Priscila Krause (DEM) defendeu que o governo do Estado monte uma força-tarefa para destravar obras contra as chuvas. Álvaro Porto (PSD) cobrou a promessa do governador Paulo Câmara (PSB) para a contrução de uma barragem em Canhotinho. A oposição passou a propor, então, que recursos de emendas parlamentares de exercícios anteriores sejam usados pelo Estado para bancar obras de apoio às vítimas da chuva.
'LÁGRIMAS DE JACARÉ'
Líder do governo, Isaltino Nascimento (PSB) discursou em seguida e cobrou "sensibilidade" e "espírito público" da oposição. O socialista classificou os questionamentos do líder da oposição como "demagogia barata" e defendeu que as barragens não ficaram prontas por falta de repasses federais.
Segundo Isaltino, a partir de 2013, houve "retaliação política" contra Pernambuco por causa do projeto presidencial do ex-governador Eduardo Campos. Ele disse, então, que obras passaram a ser paralisadas por conta da disputa política. "Como em Pernambuco não existe crocodilo, vossa excelência tem lágrimas de jacaré", disparou Isaltino, visivelmente irritado.
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Silvio reagiu lembrando o passado de Isaltino no PT, como "um dos petistas mais escabrosos", e afirmando que durante os anos posteriores às cheias de 2010, o hoje senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) ocupou o Ministério da Integração Nacional por indicação de Eduardo. Ele negou que a oposição haja com demagogia.
Isaltino disse sentir orgulho de estar filiado ao PSB e ressaltou que em um "momento descabido" a oposição faz "ilações acerca da seriedade da conduta de como foram conduzidas as obras da reconstrução".
'FICO INCRÍVEL'
Para defender o governo, Waldemar Borges (PSB) afirmou que a situação estaria pior se não fosse o esforço de concluir a barragem de Serro Azul, a maior entre as cinco prometidas em 2010. Ele também alfinetou o "derrotado sistemático" na oposição e mencionou o mandato do senador Armando Monteiro Neto (PTB). Para defender o senador, o deputado José Humberto Cavalcanti (PTB), anunciou que ele procuraria ministros para tentar liberar recursos e ações para as áreas atingidas pela chuva.
Em meio a briga, Augusto Cesar (PTB) voltou a propor que cada deputado abrisse mão de R$ 300 mil das emendas para ajudar as regiões atingidas. Rodrigo Novaes (PSD) disse que a oposição quis "fazer pouco" da inteligência dos deputados. "Fico incrível de ver esse debate. Todo mundo falando de passado quando é preciso cuidar do imediato", resumiu Zé Maurício (PP).