ELEIÇÕES 2018

Com fundo de R$ 1,7 bi, políticos não sabem como pagar campanha de 18

Novo fundo para financiar eleição não dará para campanhas de todos os candidatos do País

Paulo Veras
Cadastrado por
Paulo Veras
Publicado em 01/10/2017 às 9:31
Foto: Agência Senado
Novo fundo para financiar eleição não dará para campanhas de todos os candidatos do País - FOTO: Foto: Agência Senado
Leitura:

Após meses de discussão sobre uma reforma política, o Congresso Nacional deve chegar ao fim dessa semana, quando se encerra o prazo para mudar as regras eleitorais, avançando apenas na garantia de uma fonte para financiar as campanhas eleitorais: um fundo de R$ 1,7 bilhão que se juntará aos R$ 820 milhões do fundo partidário para tentar suprir o fim das doações empresarias, fontes dos esquemas de corrupção vistos na Lava Jato, que foram proibidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Aprovado no Senado, o fundo ainda será votado na Câmara.

Mesmo assim, a cifra está longe de conseguir pagar os custos de uma eleição geral nos padrões de 2014. Naquele ano, só os 11 candidatos a presidência da República declararam à Justiça Eleitoral terem recebido R$ 645 milhões em doações. E além deles, 22.372 candidatos disputaram para governador, senador, deputado federal e estadual naquele ano. Estima-se que pelo menos R$ 6 bilhões tenham sido aplicados naquela disputa eleitoral em recursos devidamente registrados; descontando os inúmeros casos de caixa dois que vieram à tona após as delações premiadas.

Os custos da próxima campanha se tornaram um complicador no cálculo de partidos e candidatos. Um estudo do professor Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que Pernambuco foi o segundo estado do País com a maior média de gastos entre os candidatos a deputado federal: R$ 515,3 mil; considerando apenas que foi oficialmente declarado ao TRE. Entre os 25 eleitos, a despesa média da campanha sobe para impressionantes R$ 1,6 milhão.

campanha

Deputado federal pernambucano que teve a segunda maior despesa na última eleição, o hoje ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), defende o financiamento privado. “Pessoalmente sou contra o fundo público, mas você não pode ter a proibição do privado. As campanhas precisam de uma base de financiamento, do contrário você vai inaugurar uma fórmula hipócrita que vai fomentar a ilegalidade. O melhor para o Brasil é o disciplinamento de financiamento privado com restrição, limitação e mais transparência”, argumenta.

Kaio Maniçoba (PMDB), hoje secretário estadual de Habitação, que foi o eleito com a menor arrecadação entre os federais, confessa ainda não saber como será distribuído o novo fundo. “O formato que se criou para se fazer campanha vai se dificultar muito. O financiamento empresarial, a gente sabe os problemas que teve. Agora, vamos tentar o financiamento público, que a gente não sabe como vai afetar os cofres públicos. E como a população vai entender que deixe de se colocar dinheiro em saúde e educação para se fazer política”, afirma.

FUNDO POLÊMICO

O veto do STF a doação empresarial reduziu o custo das campanhas, mas as regras favoreceram candidatos mais ricos, que podem usar sua própria fortuna na eleição, e os dirigentes partidários, que têm acesso ao fundo. “Ficou na mão dos donos de partido distribuir a nova verba. Vai privilegiar candidatos. Hoje, quando mais deputados federais, mais tempo de TV e fundo partidário vêm para o partido. Então a maior parte do dinheiro vai para deputados federais e candidatos ao Executivo. E os senadores e estaduais vão ficar à míngua”, projeta Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, que já coordenou quase 300 campanhas.

Secretário-geral da ONG Contas Abertas, o economista Gil Castello Branco critica o novo fundo e defende que a ajuda pública às campanhas se limitem ao fundo partidário e ao horário eleitoral gratuito. “O ideal na democracia é que os partidos consigam se financiar eles próprios através de seus adeptos e militantes”, argumenta. “O momento também é o mais inadequado possível. O País tem um déficit de R$ 159 bilhões. Os órgãos públicos com dificuldade de se financiar, como a Polícia Federal e universidades. Acho lamentável que a preocupação dos políticos tenha sido a criação de um fundo que vem financiar partidos”, critica.

Por meio de nota, o senador Armando Monteiro (PTB), que relatou a proposta do novo fundo, defende o modelo e garante que os investimentos em saúde e educação serão preservados. “Fiz questão de impor três condições: reduzir o valor proposto até então, que era de R$ 3,6 bilhões; não onerar adicionalmente o Tesouro nacional, usando fontes de recursos já existentes; e impedir que houvesse qualquer comprometimento de áreas essenciais e sensíveis”, explica no texto.

Últimas notícias