Pelo menos 24 mil fan pages de candidatos a deputados federais e estaduais vão estar produzindo conteúdos e podendo impulsionar os seus “posts” para atingir o maior número de eleitores possível na próxima campanha eleitoral somente numa rede social, o Facebook. “Vai ser um tsunami de informações”, diz o diretor da Bites, Manoel Fernandes. Segundo ele, as redes sociais serão “uma caixa de ressonância” na qual acontecerá de tudo: continuará a polarização, haverá uma profusão violenta de fake news (notícias falsas) e “bots”, perfis falsos ou robôs que produzem posts contra ou a favor de algum candidato. A Bites divulgou recentemente um relatório chamado Riscos Digitais 2018 o qual dedica um capítulo às próximas eleições, comparando inclusive com o que ocorreu, recentemente, em outros pleitos pelo mundo.
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Nos Riscos Digitais são citadas pelo menos três eleições: a do presidente da França, a do “Bracet” – um grande plebiscito nos quais os eleitores decidiram que o Reino Unido deveria sair do bloco político e econômico da União Europeia –, as eleições do presidente americano Donald Trump, nos Estados Unidos, e a de Sebastian Piñera, no Chile.
Na França, ainda de acordo com o relatório, ficou comprovado que muitos posts falsos beneficiaram a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, e o próprio Facebook informou que excluiu, depois da eleição, 30 mil perfis falsos que tentavam influenciar os eleitores. Na Grã Bretanha, 13 mil perfis falsos publicaram mensagens a favor do Reino Unido deixar de fazer parte da União Europeia. Nos Estados Unidos, o alvo dos posts falsos foi a candidata Hillary Clinton, que perdeu a eleição. E, por último, na última eleição presidencial do Chile, no final do ano passado, foram criadas 50 contas de WhatsApp, com origem em São Paulo e Rio de Janeiro, que entraram em grupos chilenos compartilhando notas e vídeos sobre Sebastian Piñera, o candidato do centro-direita que venceu as eleições.
E no Brasil ? “Não há dúvidas de que fatos parecidos ocorrerão na corrida eleitoral deste ano”, cita o relatório. Somente 24% dos eleitores brasileiros estão fora das redes sociais. “Vai ser uma eleição atípica. A opinião das pessoas vai ser formada pela rede social e a TV. A volatilidade do voto será muito alta”, afirma Manoel.
RESPONSABILIDADE
“A desinformação é uma constante no mundo conectado. A sociedade terá que aprender a lidar com isso. A propagação das fake news ocorre também pelos indivíduos, que devem saber o que estão consumindo e compartilhando”, conta Manoel.
Ele argumenta que o algoritmo das redes sociais entende o que o usuário gosta de um determinado assunto, passando a enviar mais posts sobre o mesmo (assunto). Por exemplo, quem curte posts com algum tipo de intolerância, receberá mais posts desse tipo. “As pessoas devem ter bom senso e checar antes de compartilhar”, aconselha Manoel. Já com relação à polarização e à intolerância, ele acredita “não ser um problema tecnológico, mas da natureza humana”.
E é bom as pessoas ficarem atentas porque sair postando fake news é crime. Dependendo do conteúdo da notícia falsa, o responsável pode ter uma pena de detenção de dois meses a um ano, de acordo com o desembargador eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco e professor de Direito da Unicap Alexandre Pimentel. A Justiça Eleitoral criou grupos de trabalho com a Polícia Federal (PF) e Ministério Público do Estado (MPE) para agilizar a identificação de perfis falsos e robôs. E até a Assembleia Legislativa de Pernambuco terá em breve um canal no qual a população poderá denunciar fake news. “Encaminharemos essas informações ao MPE, ao TRE e a Polícia Federal”, informa o deputado estadual Aluísio Lessa (PSB), que responde pela Frente Parlamentar de Combate aos Crimes Digitais do legislativo estadual que terá sua primeira reunião na próxima semana.