O governador Paulo Câmara (PSB) defendeu na noite desta terça-feira (24) o aliado Eduardo da Fonte, dizendo confiar na palavra do pepista em relação às acusações que ele enfrenta na Lava Jato, alegando que não iria pré-julgar o deputado e assinalando que continua contando com ele em 2018. Nos bastidores, porém, a avaliação de aliados do governador é que Eduardo da Fonte perde força na tentativa de se projetar como candidato ao Senado na chapa do governador.
“Eu não tenho detalhes da operação. Só o que saiu na imprensa. Em episódios como este, eu sempre tento não pré-julgar. O momento que o Brasil vive exige muita serenidade. Cabe ao deputado fazer as explicações; e ele já deu as primeiras explicações. Então não vamos pré-julgar. Vamos acompanhar. Em outros fatos e denúncias que ele sofreu, ele já foi absolvido pelo Supremo (Tribunal Federal). Então é muito importante neste momento a gente confiar no que o outro está dizendo. E a gente confia no que o deputado Eduardo da Fonte tem dito em relação a esses fatos que têm aparecido”, afirmou o governador.
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Em reserva, aliados do governador fizeram o cálculo, porém, de que ter Eduardo da Fonte como candidato ao Senado, como o PP tem tentado emplacar, pode ser um risco para a campanha do PSB pela possibilidade de o tema judicial ser explorado durante a campanha. Pelo menos três integrantes da Frente Popular disseram ao JC que Eduardo da Fonte poderia focar em uma segura reeleição para deputado federal, onde ficaria menos exposto. “Paulo Câmara não vão querer trazer o tema Polícia Federal para o palanque majoritário”, explicou um deputado, ao comentar o episódio.
PP quer Sedec
Aliados do governador admitem, porém, que a operação contra Eduardo da Fonte não tira força do PP na disputa por ampliar o espaço no governo do Estado. A sigla pleiteia o comando da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, pasta central para o governo que congrega subsidiárias como o Porto de Suape, onde estão situados empreendimentos envolvidos na Lava Jato como a Refinaria Abreu e Lima. Hoje, o PP é o maior partido na Assembleia Legislativa, com 14 deputados. Espera-se que a sigla indique um nome com perfil técnico para a vaga.
Há no PSB, contudo, quem defenda que o PP pode assumir a secretaria sem a “porteira fechada”. Isso representaria que, apesar de ter o secretário, o partido poderia não indicar a presidência de Suape ou da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), por exemplo. Desde o ano passado, Paulo Câmara mudou a regra criada pelo antecessor Eduardo Campos de que o Secretário de Desenvolvimento Econômico acumulava o comando de Suape.
Entre os governistas, existe uma ala que argumenta, ainda que o PP já está contemplado no governo e não precisaria de uma nova secretaria. Hoje, a sigla comanda a Secretaria de Desenvolvimento Social, a Secretaria-executiva de Recursos Hídricos, o Porto do Recife, o Lafepe, o Ipem, a administração do Arquipélago de Fernando de Noronha e duas diretorias em Suape. Essa ala bota na conta, ainda, que a entrega da Secretaria de Desenvolvimento Econômico ao PP tiraria poder do deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB) e do vice-governador Raul Henry (MDB); aliados de primeira hora do governador e fundamentais na campanha de 2014.
'A gente conta com ele'
Questionado se a operação de ontem enfraquecia a influência de Eduardo da Fonte na reorganização do governo e na montagem da chapa majoritária, o governador Paulo Câmara voltou a defender o aliado. “Ele vai ser ouvido durante todo esse processo como presidente de partido e como deputado federal mais votado do Estado de Pernambuco. Isso não muda de maneira nenhuma. Ele sempre nos ajudou em Brasília a destravar questões importantes para Pernambuco. E a gente conta com ele em Brasília para nos ajudar em 2018”, afirmou.
O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), preferiu não se manifestar sobre a operação da PF.