“Vai ser uma cena bonita, ele caminhando para Curitiba”. Era como o deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB), candidato ao Senado, descrevia, em setembro de 2015, como seria a prisão do ex-presidente Lula (PT) na Lava Jato, já dada como certa por ele. Três anos depois, na mesma coligação que o PT e com o petista preso, aliviou o tom. “Defendo a possibilidade de Lula ser registrado e ser candidato. Se vai ser ou não, é outro problema”, afirmou, em entrevista ao programa de rádio Cidade em Foco, transmitido em rádios do Agreste, há uma semana.
Jarbas também vem pedindo votos para o petista Humberto Costa, um antigo desafeto e que agora é seu parceiro de chapa na tentativa de se eleger ao Senado. “A situação de Lula é uma questão que está com a Justiça. E decisão da Justiça é para se cumprir”, acrescentou ontem, via assessoria de imprensa.
Ressalta, porém, que mantém o apoio a Geraldo Alckmin à Presidência (PSDB). Também não foi à inauguração do comitê do ex-prefeito do Recife João Paulo (PCdoB), candidato a deputado federal, nessa quinta-feira (23), para onde foram os aliados. O evento foi transformado em ato pró-Lula.
Lula apareceu com 62% das intenções de voto em Pernambuco na primeira pesquisa JC/Ibope/Rede Globo, divulgada na última segunda-feira (20). O presidente estadual do PT, Bruno Ribeiro, afirmou que a declaração de Jarbas é importante e disse acreditar que ele considerou as pesquisas. “Ele (Jarbas) vem tendo posições críticas, mas acho uma boa posição, defendendo a democracia. Tem sido uma característica dele dizer o que pensa, ele não é conhecido por conveniência. Lula continua subindo nas pesquisas, e o deputado Jarbas considerou a Constituição. E, de outro lado, a defesa de que o povo pode escolher”, disse Ribeiro.
Opositor do PSB desde que rompeu com Miguel Arraes, em 1992, se aliou ao ex-governador socialista Eduardo Campos, neto de Arraes, 20 anos depois, para a eleição municipal do Recife. Na ocasião, o PSB havia se distanciado do PT no contexto local, lançando a candidatura do atual prefeito, Geraldo Julio.
Em 2013, os socialistas desembarcaram de vez do governo Dilma Rousseff (PT) e passaram a criticar os petistas em âmbito nacional. E, em 2014, quando Jarbas foi eleito deputado federal após um mandato no Senado, apoiaram Aécio Neves (PSDB) no segundo turno.
PSB e PT voltaram a se aproximar no ano passado, em oposição ao governo Michel Temer (MDB). Apesar de ser do mesmo partido de Jarbas, o presidente da República é ligado à cúpula nacional do partido, que tentou destituir o vice-governador Raul Henry, aliado de Jarbas, do comando da sigla no Estado.
Após mais de seis meses de negociações em Brasília para fechar um acordo que envolvia Pernambuco, no início de agosto, a Executiva Nacional do PT anunciou a retirada da candidatura da vereadora do Recife Marília Arraes ao Palácio do Campo das Princesas e o apoio à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB), com Humberto Costa na chapa. Jarbas já era certeza para a primeira vaga da disputa ao Senado.
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FOGO-AMIGO
Em entrevista à Rádio Toritama, a vereadora do Recife Marília Arraes (PT), candidata a deputada federal, anunciou que não fará campanha pela reeleição do senador Humberto Costa (PT). O petista ajudou a articular a aliança com o governador Paulo Câmara (PSB) que rifou a candidatura de Marília ao governo do Estado.
“O senador está dizendo isso (elogios a Marília) agora que se consolidou a aliança. Porque antes as palavras dele não eram muito gentis comigo. Não tenho mais relação política com Humberto Costa”, afirmou Marília. A petista decretou apoiou ao deputado federal Sílvio Costa (Avante) na corrida pelo Senado. Sílvio compõe a chapa do candidato ao governo Maurício Rands (Pros).
A vereadora do PT também garantiu que não votará em Paulo Câmara. Ela disse que tem sido pressionada pela militância a indicar quem apoiará, mas pediu tempo até avaliar o posicionamento dos candidatos ao governo, inclusive para evitar endossar a candidatura de pessoas que, no futuro, vão poupar ou se aliar ao governo do PSB.