SAÚDE

Sob o (des)controle da tireoide

Situada na parte central e bem no final do pescoço, a glândula de apenas 25 gramas tem o poder de regular a função do coração, cérebro e rins. Quando ela acelera ou reduz a atividade, o organismo adoece

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 18/01/2014 às 13:00
Dani Neves/JC Imagem
Situada na parte central e bem no final do pescoço, a glândula de apenas 25 gramas tem o poder de regular a função do coração, cérebro e rins. Quando ela acelera ou reduz a atividade, o organismo adoece - FOTO: Dani Neves/JC Imagem
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Pequenina e poderosa, a tireoide é uma glândula endócrina que espelha bem a máxima de que tamanho não é documento. Com aproximadamente 25 gramas, ela possui uma forma bastante semelhante a uma borboleta e tem responsabilidades imensas, como a de regular a função de importantes órgãos, a exemplo do coração, cérebro, fígado e rins, através da produção dos hormônios tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4). 

São eles que atuam como o maestro de uma grande orquestra, pois possuem a missão de harmonizar o funcionamento do organismo. “Os hormônios produzidos pela tireoide são um combustível que deve estar disponível na quantidade certa em nosso corpo: nem demais e nem de menos”, diz o endocrinologista Gustavo Caldas, professor do Programa de Pós-Graduação da Unidade de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Agamenon Magalhães.

O depoimento do médico remete às condições em que a glândula funciona de forma acelerada ou lentamente, o que leva o organismo a um tremendo descompasso. Quando o trabalho dela é realizado de maneira bastante ligeirinha, entra em cena o hipertireoidismo, que pode ser caracterizado por vários sinais, como batimentos cardíacos acelerados, intestino solto, agitação e insônia.

E se a tireoide inventa de ficar preguiçosa, os sintomas são justamente o oposto: diminuição da memória, cansaço excessivo, dores musculares e articulares, sonolência e até uma tristeza que pode ser confundida com depressão. 

Foi numa consulta, há sete anos, com um endocrinologista que a publicitária Karol Nogueira, 30 anos, descobriu ocasionalmente o motivo de um misto de sintomas que a incomodava. Pele seca, unhas fracas e quebradiças, queda de cabelo e tristeza tinham como causa o hipotireoidismo, que se manifesta pela diminuição do hormônio T4 e pelo aumento do TSH – condição detectada por um exame de sangue. Interessante é que Karol não foi ao médico por conta desses efeitos indesejáveis, e sim porque não estava satisfeita com o peso. 

“No começo, tomei um susto por ser informada que tomaria por toda a vida um comprimido em jejum para repor o hormônio. Mas, quando vi os sintomas irem embora, principalmente o inchaço, comecei a me acostumar”, acrescenta Karol, que se sentiu estimulada a adotar um estilo de vida saudável desde que começou o tratamento. “Ganhei disposição de sobra para caminhar, correr e fazer exercício na academia.”

O inchaço e demais incômodos relatados por Karol são fruto da desaceleração generalizada do metabolismo corporal que ocorre no hipotireoidismo. Nesse sentido, vale um alerta: essa disfunção da glândula pode até ser responsável por uma leve subida do ponteiro da balança, mas não é responsável isoladamente pelo sobrepeso e pela obesidade. 

"O acesso a aparelhos de ultrassonografia cervical de alta resolução tem levado a uma maior detecção de algumas disfunções da tireoide", diz Fernando Almeida

Curioso é que se tornou cada vez mais comum escutar histórias de pessoas que convivem com alguma disfunção na glândula. Essas anormalidades abarcam não apenas o hipo e o hipertireoidismo, como também a tireoidite de Hashimoto (doença autoimune considerada a principal causa de bócio e hipotireoidismo), câncer de tireoide e demais nódulos na glândula sem sinais de malignidade.

“O acesso a aparelhos de ultrassonografia cervical de alta resolução tem levado a uma maior detecção de algumas disfunções. Antes do advento desse método de diagnóstico, os médicos tinham que se confiar no tato e apalpar a glândula para investigar possíveis problemas”, informa o endocrinologista Fernando Almeida, do Instituto de Endocrinologia do Recife.

Nesse contexto, é importante abrir um parêntese: a comunidade médica continua a valorizar a palpação e a solicitar exames laboratoriais que se somam aos achados da ultrassonografia. “Interessante é que toda essa investigação não se limita a nós, endocrinologistas. Muitos ginecologistas já solicitam essa bateria de testes e, diante de alguma alteração, encaminham para a gente”, acrescenta Almeida. 

Toda essa pesquisa criteriosa ajuda muito a identificar precocemente as desordens da glândula. E esse cenário é digno de crédito. Afinal, diagnosticar precocemente os nódulos e os altos e baixos dos hormônios é fundamental para devolver o bem-estar dos pacientes e aniquilar problemas que podem ser nefastos, como o câncer.

Leia a matéria completa na edição deste domingo (19/1) do caderno Arrecifes

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