Em tempos de cura gay, é preciso falar sobre respeito e tolerância. E a HQ A Diferença Invisível (La Différence Invisible, no original), faz isso de forma sensível e didática ao retratar o cotidiano sofrível e sufocante de Marguerite, uma mulher que não se encaixa nos moldes impostos pela sociedade e somente aos 27 anos se descobre como portadora da síndrome de Asperger - aspie, para os íntimos -, uma forma leve de autismo.
Leia Também
Depois de ser diagnosticada como uma pessoa neuroatípica, a vida de Marguerite muda profundamente. Ela passa a perceber que é normal ser diferente do que é tido como normativo e resolve abraçar a sua singularidade, com todas as suas particularidades sensoriais, seus problemas sociais e interesses restritos. Passa a se auto-aceitar.
Esse sentimento de pertencimento que toma conta da personagem fica claro sobretudo por conta da mudança das cores que compõem os cenários, ilustrados com delicadeza pela francesa Mademoiselle Caroline. Os dias monocromáticos tornam-se coloridos. O vermelho que representa o mal-estar social sentido pela personagem vai se dissipando com o passar das páginas e abre espaço para o alívio.
O mais interessante de tudo é que A Diferença Invisível, lançada em junho deste ano pela Editora Nemo, é uma autobiografia escrita em terceira pessoa por uma jovem com Asperger, a francesa Julie Dachez, que tem Marguerite como nome do meio. Quem narra a história é Caroline. Sim, a mesma que desenhou a HQ. Ela aparece como a dona de uma livraria que ajudou Marguerite nas suas pesquisas sobre autismo.
Uma leitura relevante, que não deixa de lado a subjetividade da personagem, ainda que apresente uma boa - e necessária - dose de didatismo. Afinal, o Transtorno do Espectro Autista não é uma doença, mas uma condição. E gerar consciência na população nunca é demais.