Amador e vivendo à sombra do futebol masculino: um raio-x do futebol feminino em Pernambuco

Karoline Albuquerque
Publicado em 24/09/2016 às 14:04
Hepta campeão pernambucano, o Vitória é o time local que mais se destaca no cenário nacional. Foto: Vitória/ Divulgação Foto:


Passados os Jogos Olímpicos do Rio 2016, onde a Seleção Feminina, mesmo sem ter conseguido garantir medalha, conquistou a torcida brasileira e deixou homens e mulheres orgulhosos das meninas do Brasil, fica o questionamento: porque o país do futebol não investe em suas jogadoras?

Trazendo essa discussão para Pernambuco, com o intuito de detalhar a situação do futebol feminino, principalmente na capital do estado, o Blog procurou os três clubes locais de maior expressão para mostrar o que vem sendo feito para profissionalizar o esporte que, até os dias de hoje, é tratado como amador.

Náutico, Santa Cruz e Sport, juntos, são conhecidos como “o Trio de Ferro” de Pernambuco. São os três grandes clubes do estado por possuírem mais estrutura e poder financeiro. São instituições centenárias e tradicionais no mundo futebolístico. Mas, quando o assunto é o futebol feminino, os três clubes podem ser considerados amadores.

Timbu cobra a CBF

Dos três clubes, o que atualmente vem investindo no futebol feminino há mais tempo é o Náutico. Há pelo menos dois anos o timbu vem disputando as competições do calendário nacional, porém ainda não consegue ser um time expressivo. De acordo com o presidente em exercício do Alvirrubro, Ivan Brondi, o investimento no time feminino é o mínimo possível. O dirigente responsabiliza a CBF pela falta de um calendário mais regular para o futebol feminino, o que, segundo ele, dificulta a manutenção do time no decorrer do ano.

“Para o futebol feminino, na realidade, o investimento é o mínimo possível. Isso ocorre porque não tem campeonato regular e isso aí faz com que os clubes não tenham interesse em manter uma equipe permanente. Nós vamos tentar manter, mas a falta de calendário dificulta o planejamento. É difícil planejar em cima de algo que não tem agenda. Você tem o Pernambucano, tem o Brasileiro e a Copa do Brasil, mas é muito pouco. Você investe e praticamente na metade do ano não tem mais o que jogar. Estamos em setembro e já acabou. Assim fica difícil”, disse Brondi.

Santa Cruz montou time de futebol feminino para a próxima temporada para atender ao Profut. Foto: Santa Cruz/Divulgação

O recomeço coral

O Santa Cruz, por sua vez, montou recentemente uma equipe com o foco na próxima temporada. O responsável pelo futebol feminino do clube, Bleno Arruda, entretanto, revelou que o Tricolor só criou o time para atender a uma exigência do  Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, o Profut, que renegocia as dívidas dos clubes com o Estado. O programa exige que haja a “manutenção de investimento mínimo na formação de atletas e no futebol feminino e oferta de ingressos a preços populares, mediante a utilização dos recursos provenientes”.

“A princípio a gente iria só cumprir a lei do Profut mas, como começamos a andar e ver que tem condições e alguns empresários resolveram investir, vimos que temos mercado para atuar”, disse o diretor de esportes olímpicos e amadores do Santa Cruz.

Goleira Bárbara, da Seleção Brasileira, foi descoberta pelo Sport, que atualmente não possui time feminino. Foto: CBF

Mais dinheiro, menos investimento 

Clube com mais capital em Pernambuco, o Sport é o único do Trio de Ferro que atualmente não investe no futebol feminino. Por meio de uma nota, a diretoria do Leão se manifestou alegando que a falta de patrocínio impede o clube de formar uma equipe para disputar as competições do calendário nacional e estadual. Diferentemente de Náutico e Santa Cruz, a instituição não informou se está buscando o investimento necessário para voltar a ter um time feminino.

"O Sport reconhece a importância do futebol praticado também pelas mulheres. Somos um Clube que valoriza o esporte em todas as suas formas e acredita no potencial transformador do esporte como um todo. No entanto, faz-se necessário transformar essas modalidades em atividades sustentáveis, permitindo condições de desenvolvimento. A escassez de patrocínio para o futebol feminino é um aspecto decisivo, nesse momento, para a ausência da nossa equipe. A área está passando por uma revisão e esperamos poder retomar as atividades em condições de perpetuar a prática o quanto antes”, informou o clube.

A esperança vem do Vitória

Se por um lado os times da capital ainda estão longe de buscar profissionalizar o futebol feminino, um clube da Zona da Mata pernambucana tem, aos trancos e barrancos, resistido ao cenário de amadorismo ao qual às jogadoras estão inseridas. O cenário no Vitória é um pouco melhor do que nos demais clubes de Pernambuco. Devido a uma parceria com a Faculdade Escritor Osman Da Costa Lins, a Facol, as jogadoras podem fazer um curso superior e têm departamento físico e médico à disposição. A dura realidade ainda persiste, contudo, na questão financeira. Ainda há atletas que recebem apenas ajuda de custos.

Atual hepta campeão pernambucano, o Vitória não tem adversário a sua altura no estado. É o único que vem disputando o Campeonato Brasileiro Feminino e a Copa do Brasil desde a criação de ambas as competições, em 2013 e 2012, respectivamente.

Outras equipes pernambucanas

Revelação Futebol Clube

Codif Futebol Clube

Barreirense Futebol Clube

Jóias Raras

Íbis Sport Club

Ipojuca Atlético Clube

Recife Bom de Bola

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